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DEUS, HERMÉTICO OU HERMENÊUTICO?



Qualquer filosofia que não passa por uma renovação constante, está fadada a enrijecer-se, isto é torna-se dogma. O dogma além de atingir consequências herméticas extremas, acaba por encerrar-se em si próprio, esgotando a possibilidade de novas descobertas e reinvenções nas múltiplas possibilidades inscritas nas mais variegadas dimensões do saber humana.

Uma epistemologia autêntica é sempre idiossincrática e nunca dogmática. Qualquer saber que pretenda ser absoluto em si próprio, está destinado a um provincialismo reducionista que envelhecerá  com o tempo, por não interagir com as constantes atualizações universais produzidas pelas descobertas e teorias que não são aporéticas, mas sim poréticas, por estar sempre aberta para explicações e  resignificações que deem conta dos constantes questionamentos gerados pela dúvida metódica do homem pós-moderno.

Um cientista, filósofo, teólogo, advogado, ou qualquer outro pensador que seja honesto intelectualmente falando,  já mais permitira que a blindagem mental intercepte seu senso crítico  na
constante procura pelo saber. Ainda que a história nos mostre o contrário, penso que devemos ser otimistas em relação ao futuro.

Tendo dito isto, daqui para frente retomarei o tema proposto no inicio desse opúsculo. Lembrando as palavra de Dostoiéwski que dissera nos irmão Karamazovi: 

Se Deus não existe, tudo é permitido. 

Quando falo em hermenêutica, não estou me referindo a um vale tudo, nem tão pouco balizando fronteiras que minimizem o conceito terminológico deste.

Ora, uma hermenêutica que explique realidades, contextos e que alcance proposições que alberge, lógica e razão, é uma hermenêutica iconológica que captura em si mesma não só a imagem de uma divindade que não se esgote por ser ilimitada, mas que referencie critérios de possibilidades intermináveis para o alcance de uma interpretação que nunca se feche, mas que sempre se reinicie de acordo com o tempo e com a lente utilizada para a análise de qualquer leitura. 

Ler é um ato polissêmico e interpretativo, porém interpretar é sempre um desafio que tenciona relações, oriundas de uma visão de poder que muitas vezes pode ser imposta por uma liderança carismática ou totalitária, mas que nunca deve ser critério para quem de fato busca apenas a verdade.

Paulo Mazarem

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