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A TROCA IMPOSSÍVEL (FÉ-RAZÃO)






Todas as teologias existentes no universo bíblico-teo-filosófico não passam de humanologias, recortes iconológicos, herméticos e reducionistas que jamais podem alcançar a magnitude apofática de Deus.

Acredito que isso se deva a limitação da razão que não consegue alcançar plenamente a transcendência, necessitando sempre daquilo que Kierkegaard chamou de “salto da fé”.

Os racionalistas (dogmáticos) não percebem que “Deus não cabe dentro de nossos esquemas teológicos”, como disse Ruben Alves “na verdade Deus é grande demais para ser apanhado, estudado, dissecado”.

Colocar dentro de um copo d'água todas as águas dos mares é impossível, simplesmente por que o infinito não cabe no finito e a eternidade extrapola a "temporalidade", assim é a mente humana limitada demais para alcançar coisas tão elevadas.

Por essa Razão é necessário compreender que a “Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar...”.

Destarte que é necessário se livrar do status ontológico atribuídos aos fatos sociais e à pretensão de se sustentar significados estritos de palavras e enunciações.

Para isso nada como uma leitura de Williard Quine. (1908-2000)

Nem uma hermenêutica nem mesmo uma exegese de sentido único, restrito, infalível são possíveis. O que resta então? A primeira alternativa para a teologia é simplesmente deixar Deus ser Deus e não enquadrá-lo em categorias humanas que nunca podem alcançar o “status Dei”.
De acordo com Alves, (1998, p.35):



D-us nunca foi visto. Razão por que os poemas sagrados expressamente proíbem que o seu nome seja pronunciado. Se D-us não se deu aos nossos sentidos, é pecado mortal pensar e dizer como ele é. A fala, o nome, criam a ilusão de que D-us é um objeto ao lado dos outros. Só de faltar “ele”, para se referir a D-us, já se cria a ilusão de que ele é macho. Se diz eu é “ela”, é fêmea. Mas não poderá ser um “isso”, como o vento, o fogo, a água? 


É necessário entender que a razão vai ser sempre um ponto de partida para uma meta-realidade e a linguagem um introito para a gênese de uma caminhada com a divindade, ele é o auto existente que se revela, tira o seu véu, dá-se a conhecer, mostra o seu rosto, a Gaudium et Spes¹, ensina-nos que Deus mostra o seu rosto ao mundo sempre que se revela, pois “revelare” significa “desocultar, fazer aparecer, mostrar-se”.

No entanto o conhecimento próprio da razão nunca é inválido ele auxilia a fé, da mesma forma que uma asa subvenciona à outra asa para juntas manter o voo.
Com isto quero memorar as palavras de Einstein quando disse que “a ciência sem a religião é manca, a religião sem a ciência é cega”. O apóstolo Pedro disse “antes santificai a cristo como senhor em vossos corações, estando sempre preparado para responde com mansidão, o motivo da razão da esperança que há em vós”.  1 Pe 3.15.

Parafraseando a ciência (razão) e religião (fé) ambas se complementam e são homogêneas, isto por que as explicações diversificadas do mundo dada por ambos os saberes tem por finalidade em cada universo semiótico explicar a realidade ainda que em distinguíveis modalidades, sem, contudo negar a explicação seja por meio do “mito” ou da “história”.

Portanto o axioma que prevalece é o conúbio da fé e da razão e a importância de ambas não somente a para “Intelectus fides Quarens”, mas para a sobrevivência do ser em tempos onde a religiosísmo, o existencialismo e a deificação do nada (Niilismo) querem como capital culturas esgotar a sede de transcendência que não sacia nunca a alma humana.


1- Gaudium et Spes- ( Alegria e esperança) - Um dos documentos mais bem elaborados no concílio do Vaticano II. 

Paulo Mazarem


Referências:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia, Martins Fontes, 2007.

ALVES, Rubens. Da esperança. Campinas: Papirus, 1987.p. 10.

ALVES, Rubens. Esquecer-se de Deus. Tempo e Presença, RJ, n.298, p.34-35, mai-jun. 1998.

CHAMPLIM, N.R, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Hagnos, 2004.






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