Paulo Mazarem
Não há dúvidas de que [1]Pierre
Bourdieu (1930-2002) foi um dos grandes pensadores franceses do Séc. XX. Seu legado
é insubstituível para as gerações que virão.
Escreveu mais de 37 livros e 400 artigos e participou ativamente de
movimentos pró-desfavorecidos. Seu pensamento é estudado por muitos
intelectuais em nosso país, entre eles o sociólogo da USP [2]Sergio
Miceli que em entrevista a Cult
revelou o espanto e o desconhecimento de suas ideias no Brasil dos anos de
1970. Como a proposta aqui é comentar
uma de suas obras penso que se deter no titulo da obra de Bourdieu nesse
momento será fundamental para compreender seu pensamento. Penso que para
compreender o pensamento de Bourdieu
em sua obra a “distinção” é necessário entender o conceito de “espaço social” e
os diferentes “capitais” que nele operam?
Ora, espaço
social é o locus onde se dão as
distinções de posições na estrutura de distribuição das diversas espécies de
capital. De modo que “espaço social é a representação multidimensional e
relacional da estrutura da sociedade de opera de acordo com o volume e a
estrutura do capital (econômico, cultural, social) em posse das diferentes
classes sociais em conflito, destarte que em Bourdieu é necessário fazer uma ressalva,
isto é, sinalizar que nas relações dentre os espaços sociais impera uma
dinamicidade e não apenas aquela lógica binária (classes, possuidores, despossuidores,
povo ...). Diferente de Marx, Bourdieu não dividia a sociedade em [3]bit,
isto é, em interfaces, do tipo burguesia e proletariado, mas sim em (no dizer
de [4]Keith Devlin em) [5]infon o que em tese significa que tudo
depende do momento, hora,
lugar em que se está analisando à sociedade. Isso o distingue de Marx em
relação a sua concepção de classes e o aproxima de Weber.
“Pierre Bourdieu tornou-se referência
na Antropologia e na Sociologia publicando trabalhos sobre educação, cultura,
literatura, arte, mídia, linguística e política. Suas reflexões dialogavam
tanto com as esferas de Max Weber, como com as classes de Karl Marx. Adotando a
nomenclatura de construtivismo
estruturalista ou de estruturalismo
construtivista, Bourdieu argumentava que há estruturas objetivas no mundo
social que podem coagir a ação dos indivíduos. Todavia essas estruturas são construídas socialmente. Por outro
lado, Pierre Bourdieu rejeitava a dicotomia subjetivismo/objetivismo nas
ciências humanas, dizendo que as relações sociais estão numa relação dialética”.
(grifos meus)
Sem
perder de vista a noção de “espaço social” e os diferentes capitais que nele
existem, Bourdieu fala-nos de capital econômico, social e cultural.
ü Capital Econômico é constituído pelos fatores de
produção, terra, fábrica, trabalhos, bens, propriedades, etc.
ü Capital Social – Contatos, conhecidos, amigos, parentes,
etc...
ü Capital Cultural é um ter convertido em ser, uma
propriedade que se tornou corpo, parte integrante da pessoa, um “habitus”, não
se adquire, nem se herda sem esforços pessoais, sem um longo trabalho de
aprendizagem e de aculturação, em suma o capital cultural permite acessar e
consumir bens refinados do pensamento e reconhecimento acadêmico, títulos,
certificados, etc...
Esses
diferentes tipos de capitais, são obviamente utilizados em contextos que o
exigem, por exemplo, a academia vive e sobrevive de capital cultural, mas
necessita obviamente de capital econômico, no entanto o econômico não é
suficiente. Na politica opera o capital social, as influências que dele emanam,
mas se você vai a um shopping, capital social não é suficiente, é necessário
capital econômico, de modo que lá, capital cultural tem pouca valia.
Porém,
esses diferentes tipos de capitais geram e criam distinções nos espaços que
nele operam.
Paulo Mazarem é Teólogo (Facasc) e Cientista da Religião (USJ).
REFERÊNCIAS:
COSTA,
C. Sociologia, Introdução à ciência da
sociedade. – 3. ed. rev. e ampl. – São Paulo: Moderna, 2005. p, 272-273.
Pierre
Bourdieu - La Distinción- Parte 1 HD. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=8h6iKrTW4Lk >. Acesso em: 15 maio 2016.
[1] Pierre Félix Bourdieu era proveniente
de uma família campesina. Ao completar seus estudos básicos, mudou-se para
Paris, onde estudou na Faculdade de Letras aos 21 anos de idade. Em 1954,
Pierre Bourdieu formou-se em Filosofia e iniciou sua vida profissional como
professor em Moulins. Sua carreira sofreu uma interrupção em função do serviço
militar obrigatório que o enviou para a Argélia. Aproveitando-se do
deslocamento, assumiu o cargo de professor na Faculdade de Letras da capital do
país, Argel.
[3] Bit (Binary digit): Bit, que
significa dígito binário em português, é a menor unidade de informação que pode
ser armazenada ou transmitida na comunicação de dados, e um bit pode assumir
somente 2 valores, como 0 ou 1, o que equivale que das duas hipóteses sempre
teremos, uma como resposta, ou é “1” ou
é “0”. 1 bit é uma em duas igualmente
prováveis. Se meu repertório é a ou b,
as chances de algo ser a ou b são Significado
de Bits. Disponível em: < http://www.significados.com.br/bits/ > Acesso em: 15 maio 2016.
[4] Keith Devlin, diretor executivo do
Centro de Estudos de Linguagem e Informação e professor do Departamento de
Matemática da Universidade de Stanford, assim como pesquisador da Universidade
de Pittsburgh, é membro da American Association for the Advancement of Science.
É colaborador de vários programas de rádio e é co-autor do documentário para
televisão A Mathematical Mystery Tour. Publicou The
Language of Mathematics: Making the Invisible Visible, Goodbye Descartes: The
End of Logic and the Search for a New Cosmology of the Mind, Life by Numbers e
Millenium Problems. Publicou
pela Record O gene da matemática e Os problemas do milênio. Keith
Devlin. Disponível em: < http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=4055 > Acesso: 15 maio 2016.
[5] Infon de acordo com o professor Nilson
José Machado (USP) difere de bit ou bits, a “infon” é a quantidade de
informação de uma mensagem, um infon precisa, isto é, especifica a
circunstância e o contexto da informação.
Se no bit, por exemplo, chove ou não chove isso é bit, com o infon é chove
ou não chove nesse [... contexto, nessa hora, nesse local, etc. Nesse caso o
bit é insuficiente para pensar a questão da informação.
Cursos USP - Tópicos de Epistemologia e Didática - Aula 3 (2/2).
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=RQewpOmatao >. Acesso em: 15 maio 2016.
[6] Junior,
Antonio Gasparetto. Pierre Bourdieu.
Disponível em: < http://www.infoescola.com/biografias/pierre-bourdieu/ > Acesso em: 15 maio 2016.
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