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 A MISSÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA E O DISCIPULADO CRISTÃO EM TEMPOS DE EXTREMISMOS

 

“[...] para que em nós aprendais a não ultrapassar o que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro” (1 Coríntios 4. 6b)

 

 

Introdução:

A Mais de Cristo fundamentada na percepção quíntupla dos ministérios de Efésios 4.11, entende que toda igreja deve ser estruturada a partir das expressões apostólica, profética, evangelística, pastoral e de ensino. 

É preciso dizer que essa estrutura não é simbólica, mas funcional, isso equivale dizer que cada igreja precisa conter equipes que reproduzam esses ministérios. Por exemplo, o ministério apostólico não se resume à expansão geográfica, mas à formação de ministérios locais. Já o ministério profético se manifesta no culto, através da adoração e da direção espiritual. O ministério evangelístico ultrapassa as quatro paredes, alcançando redes sociais, praças e eventos. O ministério pastoral atua através do CIA — Consolidação, Integração e Acolhimento e GCs. E o ministério de ensino se expressa por meio do discipulado.

Por isso, toda igreja deve se organizar para ter um líder de ministérios, um líder de adoração, um evangelista funcional, um pastor de acolhimento e um discipulador. Pois quando esses cinco ministérios interagem, compreendemos que nada do que é grande é feito por um só ministério. E se é feito por um só ministério, não é grande.

 

1.   O discipulado como expressões do Ministério

 

Neste sentido, quando pensamos no discipulado a partir de Mateus 28.19, entendemos que a missão maior da igreja é discipular. Por isso, estruturamos discipulados como o Novo Começo (para recém-convertidos e preparação para o Batismo), discipulado de novos membros (voltado para aqueles que chegam de outros ministérios e que tornar-se-ão membros conhecendo a Visão da Mais de Cristo. Além dos discipulados ministeriais, para casais (Aliançados por Cristo), mulheres (transformadas), homens (corajosos), jovens (Alive) e o que está por vir, como o Recomeçar, voltado para adultos sem cônjuges.

Esses discipulados têm a missão de formar Cristo nas pessoas, integrando-as ao Corpo chamado igreja e fundamentá-los, a partir de uma teologia bíblica, espiritual e sadia. 

Por este motivo, os discipulados são essenciais pois são através dEles que conseguimos tocar em dimensões e áreas nem sempre contempladas pela pregação. Não obstante em tempos de extremismos e confusões espirituais, o discipulado é um chamado a Santidade, como escreveu John Wesley, “não há santidade sem discipulado comunitário”.

 

2.   O Desvio do Experiencialismo Místico

Infelizmente, parte do pentecostalismo contemporâneo tem se inclinado a um misticismo experiencialista, onde a experiência pessoal se sobrepõe à verdade revelada. E aqui cabe a advertência de 1 Coríntios 4.6: não ultrapasseis o que está escrito!

Ao falarmos de teologia pentecostal, é necessário reconhecer suas virtudes e também suas fragilidades. Uma delas, que merece reflexão honesta,  é a tendência ao misticismo desvinculado da Escritura, frequentemente presente em expressões neopentecostais ou em ambientes excessivamente pragmáticos da fé.

Considere que uma parte significativa do pentecostalismo contemporâneo tende a confundir experiência com verdade, e pior: a estabelecer a experiência como critério hermenêutico. Esse caminho nos leva a ultrapassar aquilo que a Escritura estabeleceu como limite seguro para a fé cristã. É por isso que o apóstolo Paulo, adverte “…para que em nós aprendais a não ultrapassar o que está escrito…”                          (1 Coríntios 4.6, ARA).


Guarde este princípio fundamental: a experiência pode confirmar a Palavra, mas jamais superá-la. O problema surge, quando a experiência passa a ser critério de verdade. Aí surgem os absurdos: Corredor de Sal Grosso, palmilha ungida, rosa profética, e — pasmem — cuecas e calcinhas untadas com óleo de Israel. 


Meus irmãos, isso não é fé, é feitiçaria, é magia com linguagem evangélica em roupagem cristã. Permita-me vos explicar algo muito importante e que muitos ignoram. Teologia não é validação da prática; Teologia é extração da verdade revelada. Nunca esqueça: A alma da teologia é a palavra de Deus. Se não houver respaldo bíblico naquilo que realizamos, corremos o risco de fazer magia em nome de Jesus. Aprenda, nem tudo que é teológico é bíblico, mas tudo que é bíblico é teológico. 

         

        Muitas teologias foram construídas em cima de experiências isoladas, sentimentos subjetivos e tradições populares. Muita gente muda de religião, mas não muda de método, são pessoas que chegam à fé cristã com uma bagagem espiritual profunda. Algumas vieram da bruxaria, outras da magia popular, da Umbanda, do Candomblé, e de outras expressões religiosas, onde o rito e o simbolismo místico eram usados para tentar manipular realidades e gerar resultados. 


E aqui está a origem de muitas dessas práticas, pois essas pessoas vieram para o evangelho e trouxeram consigo todo esse know-how ritualístico, revestido agora de uma nova roupagem. 


O que mudou? O que mudou foi o ambiente religioso, mas a lógica da manipulação espiritual permanece intacta com a mesma proposta, uma vez que agora, ao invés de se usar guiasoferendas e rituais em terreiros, usamos rosa ungida, sal grosso, palmilha para eliminar inimigos e invejosos, cueca e calcinhas, portanto peças íntimas, para trazer o seu esposo ou esposa de volta em sete semanas, não mais do que isso. E tudo isso em nome de Jesus! 

Veja, quem ensina isso e quem recebe isso como verdade, mudou apenas de religião não de mentalidade. E é exatamente isso que Paulo confronta quando diz em Romanos 12, 2 o seguinte: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente…”

Então se há algo em nós que nos faça confiar mais em métodos, do que na palavra de Deus, de Cristo, é hora de voltarmos para à cruz e lembrar que a cruz não precisa de ajuda. O sangue não precisa de suplemento e a Palavra não precisa de efeitos especiais. 


A fé bíblica não precisa de adereços, a fé bíblica não precisa de teatrinhos espirituais, como aquele que é ensinado pela constelação familiar que foi criada por Bert Hellinger, com forte influência de doutrinas espirituais ancestrais com uma proposta esotérica que só conhece quem estuda a fundo. 

A fé bíblica não precisa de mapeamento espiritual ou de quebra de maldição hereditária para ser eficaz. Cristo já mapeou o inferno inteiro e triunfou sobre ele na cruz. Ele não apenas identificou as fortalezas — Ele as destruiu! 


Lembre-se, em Jesus, toda maldição foi cravada na cruz (Colossenses 2. 14). Não há herança maldita que resista ao nome de Jesus e ao poder do Novo Nascimento. 

“Ah Pastor, isso é bonito na teoria, mas na prática não é bem assim…” 


Note que ESSA É A FRASE PREFERIDA DE QUEM AINDA NÃO SE RENDEU COMPLETAMENTE AO SENHORIO DE CRISTO. Aliás, essa frase parte de uma perspectiva muito intimista e subjetiva, pois quando alguém diz: “na prática não é bem assim”, está dizendo: “minha experiência tem mais autoridade que a Escritura.” Então veja, quem diz que ‘na prática não funciona’ ainda está preso a métodos e misticismos e não a palavra do Senhor.  


Na PRÁTICA? Escute isso, funciona para quem crê na verdade da palavra — e não em técnicas.

Quem lembra-se do centurião romano de Mt. 8.8?


Para mim, o encontro de Jesus com o centurião romano é o mais emblemático de todos os encontros. Aquele homem, sem origem judaica, sem acesso aos rituais do templo ou à tradição dos profetas, aproxima-se de Jesus e diz algo que deixou o verbo da vida, a palavra encarnada, admirado: “Senhor, dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado” (Mateus 8. 8).


O Senhor Jesus então exclama: “Em verdade, em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei fé como esta!” (Mateus 8. 10).


Naquele momento, o Senhor Jesus estava dizendo para os discípulos, mais ou menos o seguinte: É isso, foi isso que tentei ensinar ao meu povo durante todo o tempo, confiar exclusivamente na palavra de Deus. Abraão entendeu isso, mas você, está dando uma verdadeira aula. Você simplesmente confiou no que eu te digo.” Por isso eu te digo: “Vai, e seja feito conforme a tua fé.” E naquele mesmo instante, diz a sabedoria sagrada, aquele servo foi curado (Mateus 8. 13). 


Agora eu pergunto a você? Quem creu mais? Quem tem mais fé? Aquele que precisa de objetos, rituais sagrados, performances religiosas, para acreditar que algo está acontecendo ou aquele que acredita no poder da Palavra de Deus, na palavra de Cristo. 


Quem crê mais? Aquele que se lança de todo coração no que Deus falou, se apegando a palavra de unhas e dentes, tomando posse da verdade com convicção ou aquele que diz que nós, mestres e teólogos, “complicamos o Evangelho” porque ensinamos o retorno à centralidade da Escritura?


Eu quero dizer algo para os senhores aqui presentes. Muita gente diz que os mestres e estudiosos da bíblia complicam a palavra. Agora eu te pergunto, existe coisa mais fácil do que isso? Do que acreditar na palavra de Deus? 


         Quem complica afinal de contas o evangelho?

Aqueles que defendem um retorno às escrituras, a fé na palavra de Deus ou aqueles que inventam uma série de ritos, fichas de libertação para mapeamento espiritual e tantas outras coisas?  Inclusive, falando em fichas de libertação espiritual, eu tenho uma aqui. Olha o que diz essa ficha no final. Diz assim (depois que você preencheu tudo, o final diz assim[...]) queremos alertar que a sua cura e libertação total depende de sua sinceridade absoluta e se a ministração não for completa é de sua inteira responsabilidade.


Os pelagianistas[1], semipelagianistas[2] e vertentes progressistas[3] soltam rojão, com esse texto. 

         Se minha libertação da cocaína dependesse da minha sinceridade absoluta eu estaria até hoje no mundo drogas. Se a ministração completa estivesse condicionada à perfeição do meu preenchimento de uma ficha, eu jamais teria sido liberto.


Escute, [...] se a minha libertação não veio porque eu fui absolutamente sincero, ou porque eu preenchi corretamente uma planilha espiritual. A minha libertação aconteceu porque um dia eu clamei o nome de Jesus e Ele, pela Sua graça e misericórdia, me alcançou e a obra que Ele começou em mim, Ele mesmo está completando, dia após dia. Foi Ele quem me libertou, e não um sistema de avaliação espiritual.


Quem complica o Evangelho?


Nós, que ensinamos que a Palavra é suficiente? Que a cruz é poderosa? Que a fé é o único acesso? Ou são aqueles que criam métodos, fichas, objetos, intermediações, performances e condicionamentos humanos para o agir de Deus?


Vamos ser honestos:

Quem complica o Evangelho são os que não creem no poder simples e direto da Palavra de Deus. Porque o Evangelho verdadeiro é claro: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8. 32). 

Essa verdade não é rito nem um formulário espiritual! Essa verdade tem nome. E o nome dEle é Jesus.

“Pastor, tudo bem? Mas Jesus não usou lodo para curar um cego? E os lenços de Paulo não curavam enfermos?” 


Sim, é verdade. A Bíblia registra episódios como aquele em que o Senhor Jesus cuspiu no chão, e fez lodo com saliva e aplicou nos olhos de um cego (João 9.6); A escritura também diz que os Aventais e lenços de Paulo, ao serem levados aos enfermos, resultavam em cura e libertação (Atos 19.11-12).

Mas é vital entender uma verdade essencial: existe uma diferença abissal, entre o que Deus fez de forma excepcional e o que a Igreja deve prescrever ou transformar em norma ou doutrina. 


Não podemos confundir descrição bíblica com prescrição bíblica.


A Bíblia descreve muitos atos singulares que não foram instituídos como práticas da igreja.  Por exemplo: Pedro andou sobre as águas, nem por isso a igreja passou a fazer cultos na praia para ensinar os seguidores de Jesus a andar no mar; o profeta Elias chamou fogo do céu e isso não virou modelo litúrgico.

Da mesma forma, o lodo de Jesus e os lenços de Paulo são eventos únicos, com propósitos específicos e direção divina contextualizada. Eles se encontram nas escrituras para revelar uma coisa: o poder de Deus e não o estabelecimento serializado de uma prática.


E mais, a igreja do Novo Testamento não criou ministério dos lenços, nem culto do lodo. O que ela praticou de forma constante foi:

                a pregação da Palavra,

                a oração,

                o ensino apostólico,

                a comunhão dos santos (Atos 2.42).

Esses são os elementos que nos foram prescritos, porque se tudo o que a Bíblia narra fosse modelo a ser imitado, teríamos de cuspir nos cultos de quarta e de quinta no barro para curar os doentes, andar nus como o profeta Isaías, dormir sobre o lado esquerdo por 390 dias como Ezequiel e subir em árvores como Zaqueu para se “encontrar Jesus” (João 9. 6; Isaías 20. 2-3; Ezequiel 4. 4-5; Lucas 19. 3-4). 

CONCLUSÃO

É por esse motivo que precisamos de um equilíbrio a fim de evitar extremos em nome de Deus.  Gosta das palavras de Paulo, quando diz que: “A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).

Ou seja, o verdadeiro evangelho não apenas troca a religião, ele renova a mentalidade. O novo nascimento exige nova cosmovisão, nova percepção espiritual, um novo referencial de fé — baseado não na experiência, mas na Escritura, na palavra de Deus. 


Quando experiências tomam o lugar da Palavra, o que temos não é cristianismo, mas um sincretismo religioso em nome de Jesus. E todas às vezes que tiramos a palavra de Deus do centro, essa ausência bíblica, deixará uma lacuna que precisará ser preenchida com toda a sorte de modismos esotéricos e práticas mágicas que nada tem a ver com o EVANGELHO.


Quando o rito substitui a Palavra, e a experiência pessoal se torna mais importante que a revelação objetiva, a fé cristã se aproxima perigosamente da magia disfarçada de devoção ou de um tradicionalismo morto. 


Enfim, a reforma protestante proclamou um retorno às escrituras, e como pentecostais pós-clássicos, precisamos lembrar que existe uma única fé (sola Fide), um só Senhor (Solo Christus), um Deus apenas (Soli Deo Gloria), a graça salvadora (Sola Gratia) e a palavra de Deus (Sola Scriptura).

 

 

Pr. Paulo Mazarem                                                                                                    

Mais de Cristo                                                                                            

09 Jun. 24                                                                                                             

Vison Day 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] No século V Pelágio, ensinava que o homem, por seu livre-arbítrio, pode escolher o bem, obedecer a Deus e alcançar a salvação sem a necessidade da graça preveniente. Além disso, para Pelágio, o pecado original não afetava a natureza humana de forma a impossibilitar o bem. Essa doutrina é rejeitada por católicos, protestantes e ortodoxos. 

[2] Ensinam que o homem dá o “primeiro passo” em direção a Deus.

[3] Ensinam uma salvação ética, onde Cristo é exemplo, mas não necessariamente salvador em sentido redentor. 

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