By Paulo Massarin A história da Igreja é marcada por um delicado equilíbrio entre carisma e estrutura, entre o movimento do Espírito e a organização institucional. No entanto, ao longo dos séculos, o peso da institucionalização acabou por suprimir, em muitos contextos, a dinâmica sinodal presente nos primeiros tempos do cristianismo. Diante disso, é urgente defender o retorno a um modelo mais sinodal e menos institucionalizado de ser Igreja. Introdução Desde os tempos apostólicos, a Igreja era compreendida como um corpo vivo e orgânico (cf. 1Co 12), onde todos tinham dons e voz. O concílio de Jerusalém (At 15) é um exemplo emblemático de sinodalidade bíblica: uma decisão teológica importante foi tomada não por um único líder, mas por meio de escuta, debate e consenso entre os apóstolos e os presbíteros, com a participação da comunidade. O Senhor Jesus, ao enviar os discípulos de dois em dois (Mc 6.7), ao lavar os pés dos seus (Jo 13.14-15) e ao prometer a presença do Espírito San...
PARÁBOLAS E ALEGORESE: UM ALERTA HERMENÊUTICO As parábolas de Jesus ocupam lugar central em sua pedagogia. Elas são narrativas simples, extraídas do cotidiano, usadas para transmitir verdades espirituais profundas. O ponto essencial, porém, é que cada parábola carrega uma mensagem central, um ensino direto ao coração do ouvinte. A hermenêutica ortodoxa, isto é, a interpretação bíblica fiel às Escrituras, reconhece que as parábolas não foram dadas para que cada detalhe seja espiritualizado. O risco de “forçar” significados em cada elemento narrativo chama-se alegorese . Esse método, muito comum entre alguns Pais da Igreja, buscava ver em cada número, objeto ou personagem um símbolo oculto da história da salvação. O PERIGO DA ALEGORESE O problema da alegorese é que ela substitui o sentido original do texto pela imaginação do intérprete. Ao invés de ouvir o que Cristo quis dizer, o intérprete coloca no texto uma rede de significados que não n...