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Mostrando postagens de março 14, 2021

DESCLERICALIZAÇÃO

A desclericalização é um fenômeno pós-reforma e pró-iluminismo que desencantou (parcialmente) as sociedades cristãs daquela concepção sagrada de mundo, bem como do binarismo típico das tradições culturais ancestralizadas.   Afinal quem são os secularizados da sociedade senão os ateus alguém pode presumir? Se bem que "secularização" não é sinônimo de ateísmo, mas separação do laico do clerical. O que em tese significa dizer que o estado (brasileiro, por exemplo) não é anti-religioso, e sim anticlerical.   É óbvio que o anticlericalismo não exclui o imprinting (Morin) cultural já posto e impregnado no DNA cívico-moral pelos lugares onde o cristianismo se estabeleceu. O que nos leva a problematizar o famoso enunciado Nietzschiano da morte (simbólica) de Deus, proposta com a chegada da modernidade ou até mesmo aquilo que em sociologia da religião tem se denominado "revanche de Deus". A questão é que nunca houve, a meu ver revanche! O que sempre existiu foi projeções

DOIS GUARDAS: UM COXO E UM CEGO

Um rei tinha um lindo pomar com maravilhosas árvores frutíferas, para que ninguém furtasse as suas belas frutas, ele decidiu colocar dois guardas: "um coxo e um cego".     Ambos eram responsáveis para que ninguém furtasse as frutas do rei. Um belo dia o coxo disse ao cego: Que lindas frutas nos temos na nossa frente, por que não nos deliciemos com elas? Respondeu o cego: E por que não? Traga-me uma. Impossível, replicou o coxo, você não vê que eu sou coxo, não posso subir na árvore. E eu, suspira o cego, poderia eu ver para colher?   A partir deste dia ambos começaram a arquitetar uma forma de concretizar o plano de ação, até que encontraram uma solução. O coxo montou em cima do cego, alcançaram as arvores que tinham em mira, arrancaram o quanto lhes deu vontade e encheram os bolsos, os cestos, retornando cada um para o seu lugar como se nada tivesse ocorrido.   Dias depois, o rei apareceu inesperadamente e reparou o acontecido. O que fizeram com as frutas desta e daquela árv

OS PERIGOS DA COMPARAÇÃO

Quem nunca utilizou a comparação como uma medida para avaliar, classificar ou valorar os comparados? Quem nunca viu neste modelo de pensamento a possibilidade de descrever os objetos ou sujeitos equiparados?    A questão é que neste processo ou esquema de pensamento perdemos do horizonte uma série de fatores que arbitrariamente não coexistem com a realidade dos que sub-júdice são colocados. É por isso que quase sempre, nenhuma comparação é isonômica e hifenizada. Na verdade, toda comparação é verticalizada, assimétrica, descontextualizada e injusta.    É assimétrica porque não nivela qualidades, habilidades ou a cultura do comparado, verticalizada porque esta posta de cima para baixo, descontextualizada pois não leva em consideração o contexto dos contrastados. E finalmente, é injusta, porque solapa processos históricos, currículos, invisibilizando acessos que foram permissivos para uns e ilícitos para outros.    Em suma, comparações seguem um fluxo que desconhece e ignora as composiçõ

SÖREN KIERKEGAARD, O OPOSITOR DE HEGEL?

Não há verdade verdadeira que não seja subjetiva, isto é apropriada.   Afinal de contas, quem é o pai do existencialismo? Já ouvi muitos afirmarem que é Jean Paul Sartre, outros Dostoievski, mas será mesmo?    Com o fim de responder essa questão, é preciso dizer, sem rodeios, que o pai do existencialismo é o teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard. Depois, da Primeira Guerra Mundial ele se tornou um dos autores mais lidos e estudados, primeiro na Alemanha e depois no mundo inteiro. Um dos maiores estudiosos de Kierkegaard na Europa é o italiano Cornélio Fabro.   Sören Kierkegaard, ante de tudo, é um dos mais violentos opositores de Hegel. Vivendo e escrevendo na Dinamarca, também contagiada pela imensa influência de Hegel, participa da reação contra ele, liderada por Feuerbach e Marx e outros jovens hegelianos. Mas enquanto Feuerbach e Marx criticavam o idealismo e o espiritualismo de Hegel, Kierkegaard investe contra o universalismo abstrato e o racionalismo dialético de Hegel.   O pont