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O EVANGELICALISMO

“Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” [Jesus Cristo]

Essa declaração vem dos lábios inerrantes do Senhor Jesus, nem todo que me diz, mas sim aquele que faz. Na parábola dos dois filhos Jesus reforça esse argumento.

Mateus 21.28 Jesus faz uma analogia, Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, chegando- se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na vinha e ele respondeu: Sim, senhor; mas não foi.
chegando-se, então, ao segundo, falou-lhe de igual modo; respondeu-lhe este: Não quero; mas depois, arrependendo-se, foi.

Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram eles: O segundo. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus.32 Pois João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe deste crédito, mas os publicanos e as meretrizes lho deram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para crerdes nele.

O contraste de Jesus é polar e hemisférico, a distância é abissal entre esses dois grupos. De um Lado aqueles que são extremamente Santos sob a ótica humana e de outro lado o grupo mais desonesto e devasso de sua época os publicanos e as meretrizes.

Quem eram os publicanos na ótica dos Judeus senão ladrões e meretrizes mulheres que negociavam o seu corpo. E hoje no ponto de vista atual quem são os Fariseus senão aquele grupo que a exemplo do passado, perpassava uma imagem de Santidade e piedade quando na verdade não passavam de Sepulcros caíados, túmulos. Estéticamente belos por fora, ornamentado externamente, porém putrefato por Dentro.

Quem fez e quem faz hoje a vontade de Deus ? Somos nós que honramos a Jesus com os lábios todos os cultos mais estamos com o coração longe dele. Ou são aqueles que teimosamente dizem não creio, não aceito e possivelmente nem estejam aqui mas a exemplo dos publicanos e das meretrizes bem como do filho desobediente se arrependerão e farão a vontade do Pai.

Estamos de fato fazendo a vontade do Pai, ou simplesmente nos conformamos em falar Senhor, Senhor.
Jesus está querendo dizer para os Fariseus o seguinte é muita teoria e pouca prática. O discurso de vocês está muito distante da vossa prática de vida. Por que vocês dizem, mais não fazem.
Hoje vamos distinguir o que é o evangelho dos evangélicos e o evangelho do reino de Deus.
O termo “evangélico” é uma referência que uso para essa face hegemônica da chamada igreja evangélica, como se apresenta na mídia radiofônica e televisiva. Sociologicamente falando o evangelho dos evangélicos é estratificado. Tem a base e tem a cúpula.

E é claro eu falo com muito cuidado da base, do povo simples, fiel e crédulo. Mas não me omito em discernir e denunciar a cúpula. A cúpula que é na maioria das vezes oportunista, mal intencionada, e que age de má fé. A base todos nós sabemos é movida pela ingenuidade e singeleza da fé; transita livremente entre o catolicismo, o protestantismo e as religiões afro. A base vai à missa no domingo, faz cirurgia em centro espírita, leva a filha em benzedeira, e pede oração para a tia que é evangélica. Assim é o povo crédulo e religioso. Uma das palavras chave desta estratificação é “clericalismo”: Os do palco manipulando os da platéia, os auto-instituídos guias espirituais tirando vantagem do povo simples, interesseiro, ignorante e crédulo.
A cúpula é pragmática, e aproveita esse imaginário religioso como fator de crescimento da pessoa jurídica, e enriquecimento da pessoa física. Outra palavra chave é “sincretismo”.E o sincretismo como propôs L.boff é pior que o Ateísmo. Por que a cúpula fez nada mais e nada menos do que uma leitura do pano de fundo religioso de nosso País, e assim a igreja evangélica virou uma mistura de macumba, protestantismo, catolicismo e Espiritismo.
Tem igreja que se diz evangélica promovendo “marcha do sal”: você atravessa um tapete de sal grosso, sob a bênção dos pastores, e se livra de mal olhado, dívida, e tudo que é tipo de doença. Outras usam a palmilha ungida, você coloca nela o nome dos seus inimigos no caso daquele comerciante que abriu um negócio do lado do seu ou do vizinho que você não vai muito com a cara, pois para tais pastores a luta não é mais contra o diabo, mas sim contra carne e sangue.

Me ouça, minha denúncia não é a pessoas mas sim a um sacerdócio caído.
E o que falar dos Tele-Evangelistas que prometem a unção da casa própria para quem se tornar um mantenedor financeiro de seu ministério.
Nos estados unidos existem pregadores que ensinam o povo o seguinte não traga o dizimo para o templo, mais sim para o pregador mais rico. Por que se ele é rico e bem sucedido é sinal de que Deus está com ele. Então abençoe ele e você será mais abençoado.

Outros movimentos se atém a manifestações absurdas, gente latindo que nem cachorro justificando-se no discurso de que isso é unção. Quem nunca ouviu falar da benção de Toronto, a unção do Riso, pessoas que afirmam que Deus agora está mandando uma nova unção, pessoas que transformam igrejas em verdadeiros circos e o púlpito em palco.

Nada de pregação, nada de bíblia, pois eles dizem que a bíblia não tem mais nada para nos dizer. Não passa de um livro mitológico e arcaico.

Outros substituem a palavra de Deus pelo fetiche, é a arruda é o sangue do cordeiro. Estes dias vi na teve um pastor consagrando o sangue do cordeiro eu fiquei pensando lá eles consagram aqui é o sangue do cordeiro que nos santifica e nos purifica de todos os pecados. Chega a ser cômico.

Isso se dá por uma razão, o povo religioso é supersticioso e cheio de crendices. Por exemplo no Brasil. Somos filhos de portugueses, índios, africanos, e muitos imigrantes de todo canto do planeta. Falar em espíritos na cultura brasileira é normal. Crescemos cheios de crendices: quem nunca ouviu, olha não se pode passar por baixo de escada; gato preto dá azar; caiu a colher, vem visita de mulher, caiu garfo, vem visita de homem; cuidado com a coruja é um aviso de morte e outras tantas idéias infundadas.
Quantos professores de universidade federal dando aula com cristal na mão para se energizar enquanto fala de filosofia.

A cúpula evangélica aproveita a onda e pratica um estelionato religioso: oferece uma proposta ritualística que aprisiona, promove a culpa e, principalmente, ilude, porque promete o que não entrega. Aliás, os jornais começam a noticiar que os fiéis estão reivindicando indenizações e processando igrejas por propaganda enganosa.

Essa mercantilização, de lógica neoliberal. Nasce a partir dos pressupostos capitalistas, como, por exemplo, a supremacia do lucro, a tirania das relações custo-benefício, a ênfase no enriquecimento pessoal, a meritocracia – quem não tem competência não se estabelece. Palavra chave: prosperidade.
Desenvolve-se no terreno do egocentrismo, disfarçado no respeito às liberdades individuais. Palavra chave: egoísmo.
Promove a desconsideração de toda e qualquer autoridade reguladora dos investimentos privados, onde tudo o que interessa é o lucro e a prosperidade do empreendedor ou investidor. Palavra chave: individualismo.
Expande-se a partir da mentalidade de mercado. Tanto dos líderes quanto dos fiéis. Os líderes entram com as técnicas de vendas, as franquias, as pirâmides, o planejamento de faturamento, comissões, marketing, tudo em favor da construção de impérios religiosos. Enquanto os fiéis entram com a busca de produtos e serviços religiosos, estando dispostos inclusive a pagar financeiramente pela sua satisfação.
Em síntese, a religião na versão evangélica hegemônica é um negócio.

 O sujeito abre sua micro-empresa religiosa, navega no sincretismo popular, promete mundos e fundos, cria mecanismos de vinculação e amarração simbólicas, utiliza leis da sociologia e da psicologia, e encontra um povo desesperado, que está disposto a pagar caro pelo alívio do seu sofrimento ou pela recompensa da sua ganância.
E pra encerrar esse evangelicalismo promove a infantilização em detrimento da maturidade, a dependência em detrimento da emancipação, e a acomodação em detrimento do trabalho. Pra ser evangélico você não precisa amadurecer, não precisa assumir responsabilidades, não precisa agir. Não precisa agregar virtudes ao seu caráter ou ao processo de sua vida. Primeiro porque Deus resolve. Segundo porque se Deus não resolver, o bispo ou o apóstolo resolvem. Observe a expressão: “Estou liberando a unção”. O sujeito é mau-caráter, incompetente para gerenciar o seu negócio, e não gosta de trabalhar. Mas basta ir ao culto, dar uma boa oferta financeira, e levar para casa um vidrinho de óleo de cozinha para ungir a empresa e resolver todos os problemas financeiros. È essa postura de não assumir responsabilidades, de não agir com caráter, e esperar que Deus resolva, ou que o apóstolo ou bispo liberem a unção que Deus denúncia, por que isso tem mais a ver com pensamento mágico do que com fé.

Mais como disse Paulo a Timóteo, eles aprendem sempre mas nunca chegam ao conhecimento da verdade por causa do fundamentalismo.
Quem tem o espírito fundamentalista se considera paradigma universal. Dialoga por gentileza, não por interesse em aprender. Ouve para munir-se de mais argumentos contra o interlocutor. Finge-se de tolerante para reforçar sua convicção de que o outro merece ser queimado nas fogueiras da inquisição. Está convencido de que só sua verdade há de prevalecer.
È por isso que o que predomina hoje é o dissidente, o intolerante, altamente desconectado da realidade. O evangelho que têm o espírito do fundamentalismo é dogmático, hermético, fechado a influências, e, portanto, incoerente.

E no dizer de baudrillard, em gancho a sua afimação. Esse evangelicalismo é um simulacro. Simulacro é a fotografia mais bonita que o sanduíche. Não existe evangelho mais bonito do que o midiatico. As promessas dos líderes espirituais são mais garantidas pela sua prepotência do que pela sua fé. Os testemunhos dos abençoados são mais espetaculares do que a realidade dos cristãos comuns.. O testemunho é vendido como regra, mas na verdade é apenas exceção.
A aparência de integridade dos líderes espirituais é mais convincente na TV e no rádio do que na realidade de suas negociatas.
 Quantas igrejas evangélicas envolvidas nos boatos com tráficos de armas, lavagem de dinheiro, acordos políticos, vendas de igrejas e rebanhos, imoralidade sexual, falsificação de testemunho, inadimplência, calotes, corrupção, venda de votos.

A integridade do palco é mais atraente do que a integridade na vida. A fé expressa no palco, e nas celebrações coletivas é mais triunfante, do que a fé vivida no dia a dia. Os ideais éticos, e os princípios de vida são mais vivos nos nossos guias de estudos bíblicos e sermões do que nas experiências cotidianas dos nossos fiéis. Os gabinetes pastorais que o digam: no ambiente reservado do aconselhamento espiritual a verdade mostra sua cara. Estratificado, mágico, mercantilista, fundamentalista, e simulacro. “Eis o Evangelicalis.

Paulo Mazarem

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