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SOMOS TODOS MACACOS? RACISMO E FUTEBOL



Somos todos Macacos?


Muita gente está acompanhando à campanha lançada por Neymar e que tomou conta da internet no penúltimo domingo. “Somos todos macacos” foi à resposta do jogador mais famoso do Brasil às atitudes racistas que ele mesmo e muitos outros atletas têm sofrido em estádios pelo mundo afora. A campanha de agora foi motivada pela banana atirada em Daniel Alves quando ele se preparava para bater um escanteio no jogo entre Villareal e Barcelona.
O fato ganhou repercussão internacional, mas a pergunta é, somos realmente todos macacos, é óbvio que para evitar o racismo temos que partir da ideia de que os extremos são paradoxais, porém que extremos são esses.

O 1º extremo é inconsciente e ingênuo, pois na tentativa de dissipar a discriminação racial muita gente ao viralizar a ideia acaba legitimando-a por dispositivos que ampliam à máxima de que entre os símios e os negros a uma semelhança tornando assim à semelhança entre ambas às espécies possíveis e sustentáveis, o que há a meu ver é contraproducente, já o 2º extremo é consciente e tendencioso, pois potencializa a ideia de que a evolução darwiniana justifica a premissa do ponto de vista positivista e biológico.
E aí se caí numa armadilha mortal, pois não se desconstrói racismo com o discurso de que somos todos macacos.

Franz Boas antropólogo da escola americana é quem traz para a pauta a temática a respeito de raça, evolução e cultura, isso em 1911 em sua obra [The Mind of primitive Man], que traduzida para a língua portuguesa no Brasil com o seguinte nome “A Mente do Homem primitivo” pela (Ed. Vozes em 2011).

Essa obra foi tão importante para o conceito desconstrução de raça que Hitler um dos maiores biblioclastas (e racistas) de nossos tempos mandou queimar não só a Bíblia, mas essa importantíssima obra de Boas, juntamente com os judeus, incinerando-os nos campos de concentração.

É importante dizer que nessa obra Boas desmonta definitivamente o conceito de raça e evolução ontogênica como paradigma do pensamento antropológico demonstrando que nenhum grupo humano é biologicamente superior a outro. 

Anos depois o antropólogo Francês Lévi-Strauss constrói o texto “Raça e História” para desarticular o conceito de que haveria uma superioridade entre as raças (brancas, negras e amarelas).

Podemos dizer que essa obra de Strauss, além de ser um texto antropológico inigualável é um trabalho humanitário, fomentado para superar as atrocidades racistas presenciadas durante a 2ª Guerra Mundial, sendo escrito com a finalidade de demolição dos pilares raciais do antissemitismo e de qualquer forma de racismo.

Portanto é importante dizer que o cristianismo - embora nem todos os cristãos -   tem sido anti-racista desde o seu início. Segundo Paulo: "Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, nem há macho nem fêmea, porque todos vós sois um em Cristo Jesus. Gl. 3. 28

E ainda: E de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre a face da terra. At. 17. 26

Enfim, não somos macacos, nem judeus, nem alemães, brancos, pardos, índios ou bugres, somos todos humanos criados à imagem e semelhança de Deus que se fez carne em Jesus de Nazaré e que viveu sua humanidade plenamente se entregando pela humanidade e não por uma raça especifica.


Paulo Mazarem

Seminário Franz Boas - Suas influências.  Disponível em: <http://sociologiapublica.blogspot.com.br/2009/07/seminario-franz-boas-suas-inlfuencias.html > Acesso: 04 Mai. 2014.

Educação e cultura no pensamento de Franz Boaz. Disponível em: < http://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/viewFile/13903/10227 > Acesso: 04 Mai. 2014.                                                   
Mensagem em Audio. Disponível em: < https://soundcloud.com/paulo-mazarem/somos-todos-macacos > Acesso: 05 Mai. 2014. 


Resenha de Raça e História, de Claude Lévi-Strauss. Disponível em: <http://sociologiaeantropologia.blogspot.com.br/2012/04/normal-0-21-false-false-false_20.html > Acesso: 04 Mai. 2014

Ver também: 

RAÇA, o novo filme sobre Jesse Owens, mostra por que você ainda deve se preocupar com racismo no esporte. Disponível em: < https://www.vice.com/pt_br/article/resenha-raca-novo-filme-sobre-jesse-owens > Acesso: 07 Jan. 17




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