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FALAR BEM E ESCREVER MELHOR, COMO ?



Antes de tudo devo admitir que nem todo retórico é de fato um bom literato, digo isso pois oralidade nem sempre está concatenada a intelectualidade literária, infelizmente hoje temos mais repetidores de informações do que agentes de transformação, falta-nos mentalidades inventivas que se recusem a repetir o que já foi dito, verdadeiros transformadores do espírito humano, emancipadores de mente, parteiros de alma.

A escrita (a meu ver) tem essa capacidade de nos fazer pensar, de aflorar percepções não capturadas pelo inobservável senso comum que num amenismo generalizado nada retém. Percebo que é através da escrita que pensamentos, falas e leituras já realizadas, bem como conceitos já fixados e valorados são desconstruídos por um simples pedaço de papel e caneta ou pelo dedilhar de um teclado, tal como faço (Notebook) ao escrever nesse momento fragmentos de minha leitura do mundo.

Entendam para escrever bem é necessário ler bastante, nada vem do além (psicografia), particularmente tenho lido aproximadamente em média seis horas por dia, porém já houve dias de ler mais, até doze horas.
No entanto sem nenhum pedantismo o que quero dizer é que a arquitetura da linguagem tem gênese na leitura de bons textos.

Se você quer se um bom escritor trate de consumir, se possível não apenas letras, mas, circunstâncias que lhe cercam e faça a partir dessa "leitura-interpretação", contextualizações à respeito de realidades cuja vida subjetiva está mergulhada.

Eu particularmente aprendi ler à bem pouco tempo e olha tenho minhas dúvidas ainda sobre leitura, por que ler não é apenas verbalizar palavras, entendo que leitura envolve um processo muito mais complexo, ler é interpretar, é localizar o autor em seu contexto, é sinalizar seu vocabulário é situá-lo na história, para detectar sua empiria ideológica.

Se descrever via escrita à realidade do analfabetismo funcional já não é fácil o que dizer das estatísticas, é de assustar.
Por exemplo, no Brasil numa pesquisa realizada pelo ¹Instituto de Cidadania, foram ouvidos 3.501 brasileiros de 15 a 24 anos, de seis estados e 198 municípios, e o que mais chama a atenção é a abstinência cultural dos jovens brasileiros:

23% nunca leram um livro;
39% nunca foram ao cinema;
62%nunca foram ao teatro
59% nunca estiveram numa biblioteca fora da escola.
²50,68% dos pastores e líderes nunca leram a Bíblia Sagrada por inteira pelo menos uma vez. Isso é uma vergonha. (Boris Casoy)

É claro que um bom calvinista me diria que nem todos estão destinados para a escrita, até por que vocação, para tal façanha não é para todos, porém uma coisa é necessário dizer, escrita não é dom e sim habilidade desenvolvida. Vou repetir novamente, escrita não é dom é habilidade desenvolvida, inatismo para a maioria dos casos é a capacidade de aprender a escrever, apenas em casos raros (*disgrafia) quando ocorre uma disfunção, porém escrever corretamente é um exercício, assim como a oralidade.
De acordo como CHAUÍ, (1995, p.140) :


A ³linguagem como capacidade de expressão dos seres humanos é natural, isto é, os humanos nascem com uma aparelhagem física, anatômica, nervosa e cerebral que lhes permite expressarem-se pela palavra, mas as línguas convencionais, isto é, surgem de condições históricas, geográficas, econômicas e políticas determinadas, ou, em outros termos, são fatos culturais.



Ora é isso que quero dizer oralidade-linguagem é uma habilidade condicional, decorrente de experiências históricas do individuo enquanto ser literário.


Você que lê esse texto, possivelmente será um grande escritor, pois chegar até aqui não é para todos.

Destarte que alguém pode lhe dizer, nossa você fala muito bem, (como muitos já me disseram), sim. Hoje você se comunica bem, mas certamente houve um dia que você ao se exprimir o fazia com muita dificuldade, então por que é que hoje você se comunica bem, simples. A repetição é a mãe da aprendizagem, como disse Tiger Woods quanto mais eu treino mais sorte eu tenho.

Porém, aqui está a questão muitos comunicólogos treinam apenas retórica e negligenciam a leitura e a escrita, resultado nada escrevem, péssimo escritores.

O mundo já está tão cheio de sofistas, porém literários são poucos. Os romanos já diziam as palavras perdem-se ao vento, porém a palavra escrita se eterniza.

Portanto escrever bem é um desafio, escrever inteligivelmente mais ainda! Compreendo que comunicação literária é exatamente isso, na acepção latina do termo "por em comum", que você se sinta estimulado a ler mais e a escrever mais ou pelo menos tentar democratizar suas ideias via escrita.

Pois quem não tenta nunca vai chegar a lugar algum, porém quem tentou pelo menos chegará à algum lugar.

Paulo Mazarem

Florianópolis
06 Ago 2014

Boa leitura.

Referências:

1- MORAN, José Manuel. A Educação que Desejamos: Novos Desafios e como chegar lá, Campinas, SP: Papirus, 2007.

2- Metade dos pastores evangélicos nunca leu a Bíblia toda, aponta estudo. Disponível em Acesso: 04 Ago. 2014.

3- CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia - 5ªed. São Paulo - Ática, 1995.

Vocabulário:

Disgrafia- Ver: <http://www.appdae.net/disgrafia.html> Acesso: 04 Ago. 2014

Comentários

  1. De Schopenhauer - A importância da escrita em tempos de virtualidade (icloud)!

    A maior parte de todo o saber humano, em cada um dos gêneros, existe apenas no papel, nos livros, nessa memória de papel da humanidade. Apenas uma pequena parte está realmente viva, a cada momento dado, em algumas cabeças. Trata-se de uma consequência sobretudo da brevidade e da incerteza da vida, mas também da indolência e da busca de prazer por parte dos homens.

    Cada geração que passa rapidamente alcança, de todo o saber humano, somente aquilo de que ela precisa. em seguida desaparece[...]. Segue-se cheia de esperança uma nova geração que não sabe nada e tem de aprender tudo desde o início; de novo ele apanha aquilo que consegue ou aquilo de que pode precisar em sua curta viagem, depois desaparece igualmente.

    Assim, que desgraça seria para o saber humano se não houvesse escrita e imprensa! As bibliotecas são a única memória permanente e segura da espécie humana, cujos membros particulares só possuem uma memória muito limitada e imperfeita.

    Talvez esse axioma justifique o emblemático dizer dos romanos "as palavras orais se perdem ao vento, porém as escritas se eternizam".

    Paulo Mazarem
    Florianópolis
    17 Ago. 2014

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