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A GENEALOGIA DOS TERMOS E (A-IN) EXISTÊNCIA DO DIABO








É comum desautorizarmos ceticamente aexistência de personagens, seres, coisas com o discurso de inexistência histórica seja ela na tradição oral ou escrita. Pois uma coisa é viver sem existir (aexistir) e outra é não existir (inexistir).

Quero dizer se pegarmos, por exemplo, a expressão diabo, alguém pode dizer que o diabo é um constructo histórico e que passou a existir sinonimamente com (o) expressão e identidade nos escritos do novo testamento mais precisamente nos evangelhos, etc...

Porém a questão é poderia existir algo ainda que não fosse evocado pelo nome? Parece-me que toda babel-ideológica reside no fato de não verificarmos a luz da razão há alteridade dicotômica existente entre o "Termo e o Ser". Parafraseando a inexistência do termo não anula a aexistência do sujeito, ideia e coisa. Se tomarmos, por exemplo, que eu enquanto ser existente não aexisto para muitos (sujeito anonimo) não significaria dizer que pelo fato de ser desconhecido inexista enquanto ser, uma vez que o sujeito supracitado está no anonimato, o que significa supor que embora minha fama não seja onipresente enquanto nome e até mesmo como pessoa, minha identidade enquanto ser permanece inscrita no real inalterável. 

Dei um exemplo "real" para descrever o "virtual", pois é assim que se encontram tais premissas aqui trabalhadas.

Como havia dito retomando a “velha questão satanás” muitos afirmam que o diabo inexiste, justificando-se no discurso etnocêntrico de sua localização (Israel) sustentando a tese da escritura hebraica (tanach), não enfatizá-lo (embora o mencione pouquíssimas vezes) no período veterotestamentário, porém a pergunta é será que ele não existia enquanto ser desconhecido em outras culturas?

Aqui está o problema, e acredito que os ateus, agnósticos, budistas, orientalistas ou quem quer desateste a existência do diabo precisa antes de tudo rever não o "aspecto histórico" da questão, isto é, não me refiro aexistência ou inexistência do diabo enquanto ser, mas ao pertencimento ideário e ideológico que ressignificou-se nas mais diferentes tradições humanas com variegados nomes e significados que uma "microetnia" (tribal) não pode mensurar. 

De maneira que essa sinalização "diabológica" pode ser cultural na medida em que o enredo se desdobra em uma única cultura, mas pode ser polissêmica na medida que o pesquisador vai contextualizando (comparando) e relacionando (semelhanças) sem invalidar a premissa de sua autopoiese na noosfera da crença ou no hiperurânio do pensar seja no exercício dialético reflexivo, seja na intencionalidade proselitista que se impõe enquanto discurso verticalizante.

Niilismo, não existe Diabo, Deus não existe!

Embora o niilismo favoreça o nada enquanto "nada", entendo que a corrente existencialista (cuja herança é fragmentada do niilismo negativo), privilegia uma leitura libertadora da condição humana enquanto ser emancipado, que anula a existência do fator-Deus e da ideia-diabo (do que em partes discordo) balizando nessa perspectiva um antropocentrismo onde o homem é um ser integralmente responsável por suas decisões.

Mas a pergunta é qual instituição ou que governo inspeciona isso? Quem é que pode precisar conclusivamente que de fato somos donos nós mesmos e não servos de uma intencionalidade que se impõe veladamente por dispositivos cujo movimento desconhecemos.

Aqui penso que deve-se evitar os extremos do existencialismo, pois uma vez que o homem se torne o centro do mundo, deve-se admitir que Deus não exista tal como o diabo. 
E aqui reside a sedução desta filosofia que ao meu ver é uma gaiola ideológica, que prende aqueles que por ela são capturados. 

No entanto devo dizer que se você não se reconhecesse como existencialista e entende que esses maniqueísmos (Deus-diabo, bem-mal) são desnecessários lhe convido para uma leitura monista do filósofo e bispo de Hipona Santo Agostinho que defendeu a tese de que o mal não existe como ser ontológico e sim como ausência do bem. Para o doutor da graça o mal não tem propriedades substanciais, ao passo que Deus o bem supremo, esse o possua. 

Destarte que o que quero dizer é que por mais que se negue a existência do diabo enquanto ser pessoal, jamais se poderá negar a existência ideológica dele no reino da crença, isto é, uma vez possuído pela ideia de sua existencialidade a cultura (seja singular ou coletiva) que assim o conceber tornar-se-á refém de sua existência mesmo que ele inexista enquanto ser.




Paulo Mazarem
02 Out. 2014
Florianópolis

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