O
livro de Gênesis nos relata que Deus concedeu à humanidade uma enorme variedade
de plantas, ervas e árvores frutíferas, para servirem de alimento para sua
subsistência e sobrevivência:
"Eis
que vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra e todas as árvores
frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente para que vos sirvam de
alimento" (Gn.
1: 29).
Conta-nos
ainda que Deus criou também os peixes, as aves e os animais, dando ao homem e à
mulher a liberdade de reinarem sobre todos eles:
"Então
Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda
a terra" (Gn.
1: 26).
A
Moisés, um de seus profetas, Deus ordenou que libertasse seu povo da escravidão
do Egito e o conduzisse “para uma terra fértil e espaçosa, uma terra onde
manam leite e mel" (Ex. 3: 8).
Assim,
a Terra Prometida proporcionaria, ao povo hebreu, leite, mel, uvas, figos,
romãs, amêndoas, azeitonas, além de leguminosas, como favas, lentilhas, e
diversos tipos de grãos, como trigo e cevada em abundância.
"O
Senhor, teu Deus, vai conduzir-te a uma terra excelente... uma terra de trigo e
de cevada, de vinhas, de figueiras, de romãzeiras, de óleo de oliva e de
mel" (Dt.
8: 7-8).
Diante
de tamanha riqueza, abundância e variedade de elementos e ingredientes,e
utilizando a inteligência e a liberdade que Deus proporcionou ao homem, podemos
concluir que inúmeros eram os pratos preparados e servidos para a alimentação
e, por que não dizer também, para o deleite e o prazer desse povo escolhido por
Deus para Se revelar à humanidade.
Assim
se expressa o autor bíblico no livro de Eclesiastes: "Eis o que eu
reconheci ser bom: que é conveniente ao homem comer, beber, gozar de bem-estar
em todo o trabalho ao qual ele se dedica debaixo do sol, durante todos os dias
de vida que Deus lhe der. Esta é a sua parte. Se Deus dá ao homem bens e riquezas
e lhe concede delas comer e delas tomar sua parte, e se alegrar no seu
trabalho, isso é dom de Deus" (Ecle. 5: 17-18).
Mas,
apesar de tudo isso, não encontramos na Bíblia, especificamente, registros de
receitas dos pratos que eram consumidos nas refeições e nos banquetes
mencionados com freqüência em seus textos, porém existem diversas referências
aos ingredientes utilizados na época, como, por exemplo, em Ezequiel 4: 9, quando Deus ordena ao profeta: "Tomaras
trigo, cevada, favas, lentilhas, milho e aveia,que guardarás num mesmo
recipiente para fazeres o teu pão..." (Ez. 4: 9).
Da
mesma forma, lemos, em II Sm. 17: 28-29, que, após uma dura batalha, Davi e
seus soldados são recebidos pelos anfitriões com "(...)
trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas, lentilhas, mel, manteiga, ovelhas
e queijos de leite de vaca... Trouxeram tudo isso a Davi e às suas
tropas para que se alimentassem, dizendo: Estes homens com certeza sofreram
fome, fadiga e sede no deserto".
A
Bíblia, pelo que podemos observar nas entrelinhas, sugere-nos uma culinária
típica, diversificada e bastante saudável, pois:
•
O leite era abundante na primavera e bastante consumido, in natura e
também em forma de coalhadas, queijos e manteiga. Era comum, nas
refeições, servirem o iogurte, numa espécie de molho, sobre legumes crus ou
cozidos e verduras, da mesma maneira que utilizamos, hoje em dia, o creme de
leite. Um queijo pastoso elaborado à base de coalhada era preparado para
ser passado no pão, conforme fazemos, por exemplo, com a nossa popular
maionese.
•
Muitas leguminosas, como as favas e lentilhas; diversos cereais, como o
trigo, a cevada e a espelta (uma espécie de trigo inferior e mais duro que o
trigo comum); além de verduras e legumes servidos crus, também eram consumidos
diariamente.
•
O pão, inúmeras vezes citado no decorrer da Bíblia, tanto no Antigo como no
Novo Testamento, era o alimento principal e o mais consumido pela população.
Era preparado com cereais integrais, apenas triturados em moinhos de pedra,
sendo, portanto, um alimento rico em fibras vegetais.
•
As aves e os peixes, normalmente, substituíam a carne vermelha. A carne
vermelha de gado, graúdo ou miúdo, era consumida só em ocasiões especiais,
sendo considerada até como um alimento de luxo, e era servida cozida ou,
preferencialmente, assada. Diversas passagens bíblicas nos mostram o uso da
carne como oferenda a Deus. Nos primeiros livros da Bíblia, os pedidos do povo
a Deus eram santificados por meio de rituais envolvendo animais assados (leia
Gn. 8: 20-21). Os sacrifícios de animais eram oferecidos em ações de graças a
Deus e serviam também para expiação dos pecados do povo (leia Nm. 15: 2-3).
•
O povo simples só consumia a carne vermelha em ocasiões muito especiais,
como dissemos, nos sacrifícios, ou então para receber hóspedes importantes
(leia Gn. 18: 7-8). Utilizavam geralmente as carnes de cabra, carneiro, vaca
ou mesmo vitelo (verifique em I Sm. 25: 18; Gn. 18: 7; I Rs. 4: 23; Am. 6:4).
•
A Lei de Moisés permitia-lhes ainda o consumo da caça, como veados, gazelas
e gamos (citação em Dt 14: 4-5). Já o consumo de pombos, passarinhos e
rolas era muito comum, pois essas aves eram abundantes e não custavam caro no
mercado. As galinhas só foram conhecidas pelos hebreus no tempo do exílio, e
os ovos, utilizados como alimento, só são mencionados no Novo
Testamento. O peixe, nas regiões onde havia fartura deles, era o alimento
básico do povo pobre.
•
O mel era bastante
apreciado pelos israelitas e abundante na Palestina, sendo usado puro nas
refeições ou na elaboração de pratos doces, substituindo o nosso açúcar refinado.
Aliás, entre os povos palestinos até hoje o mel é utilizado como adoçante.
•
As frutas desempenhavam um papel importante na alimentação e na nutrição
das pessoas. Frutas como uva, tâmara e figo eram muito apreciadas e consumidas,
frescas ou secas. Também eram comuns as romãs,
os abricós, os frutos do sicômoro (uma espécie
de figo), as nozes e as amêndoas, e, após o
exílio, foram introduzidos nos cardápios os limões, as amoras e os melões.
•
Condimentos e ervas aromáticas, como a hortelã, o cominho e o endro (da família do
funcho e da erva-doce), a
mostarda, a alcaparra, o açafrão, a canela e o sal, eram utilizados normalmente
para temperar e dar um sabor especial aos pratos.
•
As bebidas usadas basicamente eram a água, o leite e o vinho. O vinho era tido como um dom de Deus (confira em Gn. 27: 28;
Dt. 33: 28) e também uma fonte de alegria (verifique emEcl. 9: 7; SI. 104
(103), 15; Jo. 2: 1-11). Preparavam também um vinho doce ou fermentado, às
vezes aromatizado. Alguns vinhos eram obtidos a partir de outras frutas, como o vinho de romãs
(Cânt. 8: 2).
•
Certas passagens bíblicas nos contam que os operários matavam a sede molhando
pão em vinagre, tomado como água (Rt. 2: 14). Daí podemos entender, talvez como
um gesto de misericórdia, o fato de os soldados oferecerem vinagre a Jesus,
agonizante na cruz (leia a passagem em Jo. 19: 28-30).
Sabemos
que os israelitas foram subjugados e dominados, durante séculos, por diversos
outros povos, como os egípcios, os persas, os
babilônios e os romanos - e em diversas ocasiões. Logo, concluímos que
eles conheceram novos alimentos e absorveram outros estilos culinários, no
contato com a cultura de seus opressores.
Paulo Mazarem
Florianópolis
09 Dez 15.
REFERÊNCIAS:
KATER, A. M. Culinária nos tempos de Jesus. Ed. EBF, p. 4-7.
A comida além de alimentar o corpo, também é um alento à alma e motivo de união. Quando sentamo-nos à mesa com pessoas, forma-se uma corrente.
ResponderExcluirJesus reuniu seus apóstolos ao redor de uma mesa em comunhão, fazendo deste momento a consolidação do seu amor partilhando uma última refeição com seus escolhidos.