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ATEUS CRISTÃOS: UMA RESSIGNIFICAÇÃO CONTEMPORÂNEA DA MORTE DE DEUS.



       A justificativa do ateísmo é sinalizada pela "Gaudium et Spes", (documento elaborado pela igreja no Concílio do Vaticano II) da seguinte forma:

[...] o ateísmo, considerado no seu conjunto, não é um fenômeno ordinário antes resulta de várias causas, entre as quais se conta também a reação crítica contra as religiões e, nalguns países, principalmente contra a religião cristã. 

Essa é uma das muitas descrições a respeito da causa do ateísmo. Outros tem apontado para onipotência do mal como grande agente triunfante sobre o bem e que por sua vez, dá indícios da inexistência de um ser justo e bom. Já alguns no afã de uma existência sem normas, (anomia) constituem-se como protagonistas de seu próprio destino, demonstrando via modus vivendi uma inequívoca concepção de realidade absoluta - o Niilismo. Enfim, poderíamos elencar muitas causas que apontam para o ateísmo, porém quero me concentrar na via menos percorrida ou até mesmo invisibilizada, a via eclesiástica. 

No Brasil cresce o número dos sem religião, de acordo com Regina Fernandes no Brasil eles estão estratificados em quatro grupos:


1º Os de religiosidade própria

2º Desvinculados e descrentes 

3º Os críticos das Religiões

4º Ateus, sem religião.



Sim, os ateus se declaram sem religião. Mas, eles sempre foram ateus, logo no Brasil, um país extremamente religioso?
Devo dizer que o ateísmo é um processo. E aí penso em Mircea Eliade quando disse que um individuo a-religioso, em estado puro é um fato muito raro, mesmo nas sociedades vistas como dessacralizadas. 
Dito isto, é válido ressaltar que ninguém nasce religioso, nem ateu, nem agnóstico, ou o que quer que seja. Temo tendência mais pra a crença do que a descrença em um ser supremo. E como diria John Locke: "Somos uma tábula rasa", plasmados de acordo com a nossa cultura. 
Se temos um imprinting para crer em Deus em nossa cultura por que então muitos não creem, nem em Deus, nem na igreja, nem na humanidade? 

Ora, a resposta para essa pergunta está na expropriação ontológica de um individuo que foi machucado, abandonado, estuprado, roubado, ferido e que no processo foi ficando ateu em relação a existência de Deus por associá-lo ao seu representante no caso: o pastor, padre, pai-apóstolo, reverendo,  etc... em alguns casos isso é tão sintomático que no ápice do desespero, alguns chegam a seguinte conclusão se Deus é isso, imagem e semelhança do seu representante, como diria Nietzsche: “Ele está morto”, porquê? 
Por que esses caras são o diabo. E se Deus permite que esses bandidos agam  em nome dele ele então é licencioso, leniente, etc... 
Aqui estão os que abandonarão à igreja e não querem saber mais disso. O ruim disso como diria Chesterton não é a descrença em Deus, mas sim o fato do individuo pós-teísmo ou pós-deísmo acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou em si mesmo.  
O que me leva a concluir que o aumento do ateísmo no mundo não se dá pela ausência de provas à respeito da existência de Deus, mas sim pela ausência de representantes fidedignos que encarnem sua imagem e semelhança diante dos homens. 

No entanto, há um outro tipo de ateu, aquele que dissimula crença religiosa e que instrumentaliza a religião para obter vantagens materiais em nome dela, para este Deus é um grande negócio e pessoas, clientes, apenas isso. Esses são ateus na prática do ministério, lideres eclesiásticos,  que profissionalizaram-se a ponto de funcionarem apenas no automático, pois falaram tanto de Deus, banalizaram o divino a ponto de infantilizarem-se quando o assunto é sagrado. 

Estes se encaixam no critério de Jesus, sim "há quem compararei esta geração, é semelhante a meninos que sentados nas praças clamam uns aos outros aos seus companheiros, entoamos flauta e não dançastes, entoamos lamentações e não pranteastes. Veio os profetas vocês mataram, veio o mergulhador (João), veio o Messias (Jesus) e a insatisfação cética permanece contumaz e viralizante, enfim vocês são incomparáveis. Sim diferente dos fariseus que não creram em Jesus, e que foram comparados a crianças, os ateus cristãos são indescritíveis. 

São indescritíveis pois vivem com Deus na boca o tempo inteiro, mas na pratica, negam a sua eficácia, contradizendo tudo o que é puro, justo, e o que há de boa fama. 

Lembro-me de um texto de um sociólogo francês, (Baudrillard) onde ele dizia mais ou menos assim:

Estendendo seu raciocínio, fala da onipresença de Deus:     "A fase onde ele estava em toda parte precedeu de perto a da sua morte. Sem dúvida nenhuma a morte de Deus precedeu a fase em que ele estava em toda parte". O segredo dos grandes grandes teólogos e inquisidores, de saber que Deus [...] está morto. [...] lhes dá uma superioridade fabulosa. Quando o poder descobre esse segredo [...] se torna verdadeiramente soberano. 

Gostaria de discordar de Baudrillard, refutá-lo, desconstruí-lo, mas o fato é que ele simplesmente leu bons livros de história e contra fatos não há argumentos. Quais argumentos? 
O da inexistência de Deus? Não! 
Deus existe e não se fala do que não existe. (Anselmo)
Minha referência é aos ateus cristãos que legaram um deicídio há humanidade e que hodiernamente tem seus ministros que reproduzem e perpetuam o passado, isto é, repetem-o e atualizam-no com seu ineditismo ritualístico.  

Boaventura de Souza Santos recomendaria a leitura desse texto para 2050, mas eu já vou me adiantando. 

Paulo Mazarem
Florianópolis
28 Jan. 15

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