A violência simbólica é tão devastadora, quanto a violência física, antes que alguém diga que ela é simbólica, e portanto, invisível e não perniciosa, seus efeitos são semelhantes ao de uma bactéria, invisível aos olhos humanos, mas mortal.
O cientista holandês Anton van Leeuwenhoek foi quem nos brindou com essa descoberta e acredite, bactérias matam, ainda que você não acredite, nem veja. Enfermidades provocadas por bactérias, são: cistite, tétano, meningite meningocócica, escarlatina, febre tifoide, hanseníase, gonorreia, botulismo, sífilis, cólera, tuberculose, peste, gastrite por H. Pylori e alguns tipos de diarreia.
Apesar de não ser exatamente uma enfermidade, a cárie também é provocada por bactérias.
Hoje as bactérias estão se tornando cada vez mais resistentes as drogas e existem poucos antibióticos para combatê-las - bactérias degradam, definham e matam. Você não vê, mas elas existem, assim é a violência simbólica que Bourdieu apresentou subsumida em muitas de suas obras, como a dominação masculina, a reprodução, etc.
É incrível como as pessoas não percebem-na, talvez pela ausência de microscópio (conhecimento). No entanto, desnudar, bem como apresentar a fisionomia da(s) violência(s) é o dever de todo intelectual que faça jus ao diploma que recebeu.
Estou convencido de que a violência simbólica é a causa do extermínio invisível de milhares e milhares de pessoas desassistidas pelo poder.
Talvez você se espante pela dicotomia entre cultura e natureza, mas acredite o modo como os discursos se projetam tornam a morte, ainda que simbólica como algo natural. De modo que a ausência de alguém rapidamente é substituída por uma outra presença, não tendo valor algum a subjetividade humana nesse processo.
É o estudante que abandona a escola ou a academia sem saber ao certo o motivo, é a mulher que sente incapaz de conquistar o seu espaço na sociedade por causa da pressão androcêntrica, i. e, patriarcal que até hoje domina nossa sociedade.
É o negro que sofre injúrias qualificadas pela cor da sua pele, é o índio que não compreendem como um só Deus ao mesmo tempo é três, são os epistemicídios realizados em nome da democracia.
São mortes simbólicas, mas são mortes. Espaços que poderiam ser ocupados por meritocracia e não por despotismo.
Minha proposta é lhe emprestar, ainda que temporariamente as lentes desse microscópio epistemológico, aqui apresentado para que você possa contemplar essas violências simbólicas que se inscrevem e se naturalizam em nosso dia-a-dia.
Paulo Mazarem
Florianópolis
15 jul. 16
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