Paulo Mazarem[1]
Não acredito
na ingenuidade dos conceitos. Penso como dizia um velho filólogo[2]
alemão que a etimologia é produzida pelo(s) poder(osos), com a finalidade de
dominar. Assim os conceitos são criados, confeccionados, pensados e
convencionado, por aqueles que detém um tipo de capital cultural que não só
supera o "senso comum", como também suplanta e condena-o a permanecer
"senso comum".
Ora, não vou
me ater ao étimo, mas vou desdobrar rapidamente o que pensa o sociólogo polonês
Zigmund Bauman sobre o assunto.
Ele entende
que as redes sociais e a comunicação virtual cria uma espécie de vínculo
frouxo, onde as relações estão pautadas mais na desconexão (ausência) do que
conexão (presença).
O próprio
Bauman[3]
conta que um aficionado em Facebook gabou-se para ele que havia feito 500
amigos em um dia na rede social. A resposta dele foi a seguinte, tenho 86 anos
e não tenho 500 amigos.
Aqui vale a
pena re-lembrar, minha provocação inicial, as pessoas confudem conceitos e até
atribuem uma certa sinonímia entre redes sociais por laços de amizade ou até
mesmo de "usuários de rede" por amigos. E deve-se, sublinhar e dizer
que são coisas completamente diferentes.
Perceba que as
redes sociais abarrotadas de usuários geram uma sensação de que todos os que
lhe adicionam são amigos, quando na verdade, são no dizer de Zigmund Bauman
“usuários de rede” apenas isso. Segundo ele o que sustenta a rede social (facebook),
por exemplo, são duas coisas: a conexão (On-line) e a desconexão (Off-line).
Esse efeito de
rede não pode ser confundido com laços de amizade comunitária. Pois amizade,
explica o sociólogo, implica em presença, corporeidade, lugar, compromisso,
intimidade ao passo que o seu degradante implica em indiferença, virtualidade,
ausência. É o jogo entre o virtual e o real, a representação e a
situacionalidade.
Particularmente,
penso que o processo é tão intenso que a presença física em nossos dias se
tornou pobre, frente ao vesúvio de virtualidade e hiper-realidade[4]
construída nas plataformas do universo virtual (Baudrillard), assim presença
física nada mais é do que representação espacial ou simbólica do sujeito em
determinados espaços.
A grande
questão é saber até onde o universo virtual pode superar ou suplantar a
concretude da presença humana?
Não seria a
holografia uma reinvenção e substituição fidedigna do humano, não mais
presente, mas onipresente?
E a
substituição afeta o sentimento humano ou resignifica-o?
A vida em
comunidade resistiria a essa nuvem nocional de redes, conexões e wireless, sem
ser alterada?
É necessário
distinguirmos essas modalidades tecnológicas e perguntarmo-nos se elas as
"redes" estão ou não atingindo e transformando as nossas vidas?
Há quem diga que
o virtual está substituindo o Real, mas o que é o Real?
Já outros
defendem como é o caso de Pierre Lévy que o virtual não se opõe ao real, mas ao
atual.
Enfim essa é
uma discussão que pode ser ampliada, mas lhe convido a pensar sobre o
assunto, Redes ou comunidades?
Você escolhe?
Certo.
REFERÊNCIAS:
LÉVY,
Pierre. O que é Virtual. [Tradução
de Paulo Neves]. – São Paulo. Ed. 34. 1996. p. 15
NIETZSCHE, F. Obras incompletas. [tradução Rubens
Rodrigues Torres Filho]. – São Paulo. Nova Cultural, 1996.
ROBERTO,
BEM. Telenovelas, discurso sobre o
Real e a hiper-realidade
baulidrillardiana - uma relação e análise.
Rio de Janeiro, 2010.
[1]Paulo Mazarem - Graduado
em Teologia pela FATECAMP, Teologia Sistemática (FACASC) e Ciências da Relgião
(USJ)
[2] A etimologia nieztscheniana mostra que não
existe um “sentido original”, pois as próprias palavas não passam de
interpretações, antes mesmas de serem signos , e elas só significam por que são
“interpretações essenciais”. As palavras segundo Nietzsche sempre foram
inventadas pelas classes superiores , assim, não indicam um significado, mas impõem
uma interpretação. (Nietzsche, 1996 p. 12)
[3] Bauman, Zigmund. Os laços
humanos, redes sociais, liberdade e segurança. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=_ZYu9dmGtUw> acesso em: 30 Set. 16
[4] Hiper-realidade termos criado por ele é
constítuido pela combinação de comportamento dos indivíduos com imagens do mass media. Para Baudrillard ,já não existe uma realidade restrita a ambienes físicos, mas sim uma profusão
de realidade visual [...] (BEM, 2010, p.
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