“Existem sistemas políticos ateus, mas não existem civilizações ateias”. N. Berdiaeff
“O homem a-religioso no estado puro é um fenômeno muito raro, mesmo na mais dessacralizada das sociedades modernas. A maioria dos sem religião” ainda se comporta religiosamente, embora não esteja consciente do fato. M. Eliade[1]
Crer sem pertencer. H. Léger[2]
Paulo Mazarem*
Em ciências da Religião o termo Religião já não é mais um termo designativo, como sendo produto de uma única cultura, (talvez nunca fora), justificando-se obviamente pelo monopólio epistemológico do qual a igreja católica foi mentora e guardiã, por muito tempo (15 séculos aproximadamente).
Pra se ter uma ideia no passado era inconcebível pensar em alguém sem religião no Ocidente. Na Europa do século XVI[3], o ateísmo não era apenas uma realidade distante, mas algo literalmente inimaginável. Assim, o ateísmo foi viável linguisticamente no Ocidente, somente a partir do séc. XVII e socialmente a partir do séc. XIX e XX de acordo com o historiador francês Lucien Febvre (1878-1956).
Pra se ter uma ideia no passado era inconcebível pensar em alguém sem religião no Ocidente. Na Europa do século XVI[3], o ateísmo não era apenas uma realidade distante, mas algo literalmente inimaginável. Assim, o ateísmo foi viável linguisticamente no Ocidente, somente a partir do séc. XVII e socialmente a partir do séc. XIX e XX de acordo com o historiador francês Lucien Febvre (1878-1956).
De lá, para cá, as estatísticas mostram que os sem religião, dos quais os ateus fazem parte, cresceu determinantemente. Em 2000, por exemplo, as religiões no Brasil, segundo o censo do IBGE registrou um crescimento exorbitante de um grupo bastante heterogêneo que se declaravam sem religião. Só para lembrar em 1991 eram sete milhões (7 milhões), porém em 2000 o numero é de doze milhões e trezentos mil (12, 3 milhões) de pessoas que se declaram sem religião e em 2010, último senso já são quinze milhões (15 milhões), i, é, oito por cento ponto um[4] (8, 1 %) de brasileiros que se declaram sem religião.
Mas sem religião, significa sem religiosidade? De maneira alguma.
De acordo com Rafael Lopez Villasenor[5], citando Regina Fernandes (apud, 2006: 107-108), no Brasil encontramos quatro tipos de indivíduos sem religião:
ü 1º Religiosidade própria que nunca pertencerão a nenhuma instituição religiosa.
ü 2º Desvinculados ou desigrejados.
ü 3º Descrentes. (Agnósticos)
ü 4º Críticos da religião e/ou ateus.
Daí, vale a pena lembrar que os ateus, que declaram não crer em uma divindade metafísica, partilham de crenças imanentes e subjetivas, em algo que oriente e de sentido a sua crença seja ela filosófica, política ou antropológica. Em tese, os que não creem em "Deus ou deuses", projetam suas crenças em substitutos que ocupam o trono da(s) divindade(s).
Na verdade a crença não desaparece, ela apenas se desdobra e se diversifica em novas modalidades. Sendo a crença o ponto de contato entre ciência e religião, razão e mito. Sendo ambas portadoras de um lógica alteritária que procura explicar o mundo ou o seu ordenamento, partindo de pontos diferentes, para um fim teleológico. Sei que os existencialistas e niilistas discordarão disso, mas, isso não anula essa premissa.
Logo, não estaria equivocado ao dizer que não existe ciência sem crença e nem crença sem religião, destarte que até o ateu convicto precisa ter fé, i.é, crença na razão, na ciência ou na evolução, como já disse, isso significa dizer que o mito apenas se camufla com novas terminologias, apenas isso.
Enfim, o que diferencia a religião como diz um historiador pop, da religiosidade, é o sistema, a hierarquia, ordem, burocracia, etc..., ao passo que a religiosidade pressupõe sentimento interior, crença subjetiva em um Deus, deuses, natureza, humanidade, natureza, etc... Então, ainda que "religião" seja um conceito inapropriado, cuja verbalização não soa bem, religiosidade é o que orienta praticamente o "modus vivendi e pensandi" da humanidade como um todo, sendo quase que uma conditio sine qua non.
Florianópolis
03 Out. 16.
03 Out. 16.
*Paulo Mazarem é Bacharel em teologia (FATECAMP), em teologia Sistemática (FACASC) e Cientista da Religião (USJ).
[1] ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano, a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 166
[2] HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: Vozes, 2008.
[3]BELISÁRIO, Adriano. Ateu, nem Pensar! Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/ateu-nem-pensar > acesso em: 03 Out. 16
[4]Mariano, Ricardo. Mudança no Campo Religioso Brasileiro em 2010. Disponível em: <www.seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/download/43696/27488 > acesso em: 03 Out. 16.
[5]VILLASENOR, R. L. Crise institucional: os sem religião de religiosidade própria. Revista Nures | Ano IX | Número 23 | janeiro-abril de 2013. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/nures/article/viewFile/22202/16239 > acesso em: 03 Out. 16.
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