Pular para o conteúdo principal

O QUE É O NATAL?




No inglês norte-americano ao invés de se pronunciar Merry Christmas (feliz Natal) diz-se Happy Holidays (boas festas), isto para não ofender ninguém que celebra a festa e que não é cristão. De acordo com Carina Fragoso alguns nativos da língua entendem que o natal é uma festa religiosa que celebra o nascimento do fundador do cristianismo e por esse motivo substituir a frase é fundamental para não deixar ninguém chateado. 

Ora, observando os sentidos que tem são empregados para a percepção do que é natal é que devemos nos perguntar o que é natal mesmo? 
Do cuidado semântico ao sentido do termo, da ética a estética a questão é, como que nós brasileiros vivenciamos essa data. 

Para isso penso que aquele exercício fenomenológico conhecido por nós filósofos chamados de "epoché" deve ser o Leitmovit de qualquer reflexão séria que pretenda examinar com coerência lógica uma representação fenomênica de tal magnitude. 


Mas o que o Natal vem a representar?

Em suma, o Natal constituí o eco do maior evento da história: a encarnação de Deus, como dizia S. Leão Magno, 1º Sermão sobre o Natal, 1: "Alegremo-nos, não pode haver tristeza quando nasce a vida! 
Ora, se Deus se fez pessoa humana e veio morar em nossa casa, celebremos então com alegria essa boa nova. 

Por este motivo é muito importante destacar que Deus não ficou no seu mistério indecifrável; ele saiu de sua luz inacessível e veio para as trevas humanas. Não permaneceu na sua onipotência eterna; ele penetrou na fragilidade da criatura. Não atraiu para dentro de si a humanidade; ele se deixou-se atrair para dentro da humanidade. Ele veio para o diferente dele; se fez aquilo que eternamente não era. 

Ora, estamos tão acostumados a ouvir que o verbo se fez carne - que nem chegamos a refletir o que isto significa.  

O filósofo Blase Pascal disse certa vez que Deus nos faz/fez para si com único propósito, tornar-se mais tarde um de nós. E foi exatamente isto que aconteceu. O verbo se fez carne, a palavra se revestiu de humanidade, de nervos, músculos e pele. A palavra respirou entre pessoas simples e complexas, pobres e abastadas, elitizadas e plebletizadas, enfim ele veio ao mundo, caminhar pelas ruas que foram construídas a partir da terra que ele criou, experimentar d'água que ele mesmo separou para o consumo humano. Ele veio para chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram, veio para abraçar as crianças, ressuscitar os mortos, dar vida aos moribundos, ele nasceu, viveu e morreu para isso.
Quando desceu dos céus não deixou de ser Deus e quando retornou, não deixou de ser homem. (Blanchard).
Sim, muitos homens desejaram ser deuses, mas só um Deus se tornou homem, Jesus-Cristo (Deus-Homem). Como lembra-nos John Stott: Jesus se fez carne no ventre de Maria e se fez pecado na cruz do calvário. 
Se ele não pudesse encarnar não seria Deus, no entanto, pode não só encarnar como Deus, como ser plenamente humano ao mesmo tempo, um humano plenificado em todas as dimensões e faculdades, como disse Leonardo Boff: "Tão humano assim, só pode ser Deus". 

Natal significa dizer que Deus por meio de Jesus Cristo e seu nascimento, sabe tudo sobre nós como diz Max Lucado: "Sentiu-se triste, a ponto de chorar em público, cansado a ponto de dormir na popa do barco, alegre a ponto de ser chamado de beberrão, radical a ponto de ser expulso da cidade, responsável o suficiente para cuidar de sua mãe, foi tentado a ponto de sentir o cheiro de Satanás, e sentiu medo o suficiente para suar sangue. 

Ele sendo Deus na eternidade, encarna-se no tempo, nos anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. Ele que é ilimitado, torna-se limitado, infinito, torna-se finito. O apóstolo Paulo disse que ele sendo Deus ... esvaziou-se, isto é, enclausurou-se na carne, preso pelos ossos e restrito pelos músculos. Ele que era/é o Sol da justiça, agora precisa do seu brilho para produzir vitamina D e cumprir com dinamismo a missão que lhe estava designada. Ele que era/é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores tornou-se servo dos servos a ponto de lavar os pés de seus discípulos (súditos). 
Ele que era/é o Leão da tribo de Judá se fez cordeiro de Deus para tirar o pecado do Mundo. 

Por este motivo fazemos nossas palavras do Papa São Leão Magno (+ 461) proferidas por ocasião da festa do Natal: 
"A união das duas naturezas numa só pessoa (em Jesus Cristo), eis o que a palavra não pode explicar, se a fé não o crer".  
Destarte, que se Jesus fosse apenas Deus ele poderia nos criar, mas não poderia nos compreender e se fosse apenas homem poderia nos amar, mas não poderia salvar.
É nele que a gente descobre o lado divino de Deus no Homem e o lado humano do homem em Deus.

Com esse propósito devemos desconfiar primeiramente desse natal fraude, dos presentes transientes, das balas arremessadas, das carreatas sonorizadas, da sociedade da dádiva (Mauss) e das almas caridosas que agendam sua bondade para este dia que nada tem haver com presentes, consumo, drogas, ebriedades e glutonarias.


Deve-se dizer que Jesus e Papai-Noel são fórmulas que não combinam, nem se assemelham, assim como não combina o cavalo de Tróia e o leão da tribo de Judá, certo?

Afinal o que vem a ser o Natal?

Os cristãos entendem que o natal é evangelho (Boas-Novas) para os peregrinos desbussolados, luz para o(s) que anda(vam) em trevas, vida para os que estão/vam mortos, paz para os que viviam em guerra, água para os sedentos e alimento para os famintos.

Natal é espiritualidade que se esgota em amor, é Deus que se faz gente, homem que se torna escravo, criador que se torna criatura.
Natal é Deus batendo na sua porta e perguntando, posso entrar? Há um lugar para mim na sua casa. Posso ficar com você?

Logo, se Jesus não for/é o protagonista dessa festa,  os cristãos que compreendem essa realidade, pedem licença para se retirar, uma vez que entendem que a ausência do aniversariante, inválida a comemoração.

Por este motivo é que muitos tem se voltado novamente para Belém.

Retornar a Belém (casa do pão) é compreender a gênese do Natal, é se alimentar do vivo que desceu do céus (Jesus).
É se permitir adorá-lo juntamente com os magos que o presentearam com todas as suas forças e posses. 

Voltar a Belém é contemplar o cântico dos anjos: "Glória Deus nos mais altos céus, e boa vontade de Deus para aqueles que ele ama" e saber que sem adoração não pode haver Natal.

Enfim, retornar a Belém é em uníssono com os pastores de Israel, dizer: “Vamos então até Belém e vejamos o que aconteceu e o que o Senhor nos deu a conhecer”. (Lc 2,15)

FELIZ NATAL
Paulo Mazarem
São José
23 dez. 16


REFERÊNCIAS:


BOFF, L. Natal: a humanidade e a jovialidade de nosso Deus. 8. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 17; 20; 22; 69

LUCADO, M.  O salvador mora ao seu lado: tão próximo que podemos tocar; tão poderoso para nos transformar. - Rio de Janeiro: Thomas Nelsom, 2011. 


Maneiras de desejar FELIZ NATAL EM INGLÊS 🎅 (+Vocabulário de Natal!)). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=sGTacR9w_Jw > Acesso em: 28 dez. 16

Jesus se fez carne no ventre de Maria e se fez pecado na cruz do Calvário. Disponível em:  Acesso em: 28 dez. 16



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UMA BREVE HISTÓRIA DO CULTO AO FALO

Uma dose de conhecimento histórico, i.e., religiológico, (sim só um pouquinho) é suficiente para deixar nossos pudores embaraçados, uma vez que sexualidade sempre estivera imbricavelmente relacionado a religião parte constitutiva da humanidade.                              Uma historicização a respeito do “falo” ou de seus simulacros (objetos construídos para veneração)  nos períodos arcaicos da história humana, revelará que toda esta carga latente de erotização que (o Ocidente) se dá (eu) ao pênis hodiernamente, está equidistante da concepção que os antigos tinham a respeito da (o) genitália (órgão sexual) masculino.  Muitas culturas, incluindo o Egito, Pérsia, Síria, Grécia, Roma, Índia, Japão África até as civilizações Maia e Asteca viam no culto ao pênis uma tentativa de alcançar o favor da fertilidade e à procriação da vida.     Porém, ao que tudo indica o falocentrismo  cúltico  veio da Índia, com a prática do Brahman de adorar o pênis do deus supremo, Shiva.  

RESENHA DO FILME TERRA VERMELHA

Paulo R. S. Mazarem O Filme “Terra Vermelha" de 2008, direção e Roteiro do chileno Marco Bechis , bem como os demais roteiristas Luiz Bolognesi, Lara Fremder foi produzido com a finalidade de dilucidar a realidade enfrentada pelos índios Guarani- Kaiowá e descrever a perda espacial de seu território no Mato Grosso do Sul, expropriado pelos Juruás (homens Brancos). A co-produção ítalo-brasileira Terra Vermelha , é uma obra com teor político, e torna-se quase que indispensável por assim dizer para quem deseja compreender a questão e realidade indígena de nosso país. Ele descreve como a nova geração de índios, isto é, os jovens reagem diante de um novo sistema que lhe é imposto, onde seu trabalho, cultura e religião não possuem valor algum, efeitos esses decorrentes das apropriações indébitas de terras que em outrora eram suas por nascimento, para não utilizar o termo “direito” que nesse caso, não era um saber do conhecimento

BOB ESPONJA, PATRICK E SIRIGUEIJO - REPRESENTAÇÕES SUBJETIVAS & COLETIVAS DO COTIDIANO

Esses tempos rolou um papo nas redes de que Bob esponja e Patrick eram gays, no entanto eles estão mais para anjos do que para hetero ou homossexuais, sim eles são seres assexuados. De acordo com Stephen Hillenburg (criador do desenho), Bob Esponja é ingênuo,  arquétipo do personagem que está(eve) sempre por aí, do indivíduo que vive e se comporta como uma criança. Já Patrick  não é ingênuo, mas burro.   Ambos formam uma dupla interessante, pois os dois juntos  pensam que são adultos e gênios.   De fato, Bob Esponja não (nunca)  percebe as trapalhadas que ambos cometes e Patrick se acha o melhor cara do mundo. Mas não esqueçamos o Mr. Sirigueijo. O senhor Sirigueijo, (chefe do Calça Quadrada na lanchonete)   tem uma história mais íntima, na verdade ele foi inspirado num chefe que Hillenburg conheceu quando trabalhou num restaurante... de frutos do mar.   O mesmo diz o seguinte: "Eu era da Costa Oeste americana, ele era da Costa Leste”. Ele tin