Quando falamos em ceticismo é fundamental citarmos o "pirronismo", que enquanto escola de pensamento ficou conhecida pelo famoso lema: "Nada pode ser conhecido, nem mesmo isto".
Mas, o ceticismo que quero destacar é bem moderno! E a referência é de Eckart Tolle que questiona o ceticismo cognitivo, que tem sua expressão, na dúvida cartesiana, na desconfiança filosófica do “Cogito, ergo Sum” (Penso, Logo Existo)!
É interessante destacar que Eckart Tolle, afirma em sua obra “O poder do Agora” que o filósofo Francês Descartes cometeu, um erro básico ao equiparar, o pensar ao ser e a identidade ao pensamento (filosofia que (quando analisada em sua estrutura) justificou, inclusive dominações, etnocentrismo e o nazismo que fundamentado num EU PENSANTE encontrou UM NÃO EU ou um NÃO SER para exterminar um OUTRO considerado, do ponto de vista cartesiano "não pensante").
Talvez, essa seja a grande armadilha do "cogito, ergo sum" que (despretensiosamente ou não) invisibiliza um EU (cogito) pensante desconsiderando o OUTRO como um não pensante!
Daí, porque o filósofo lituano, Emanuel Lévinas muito contribuiu para a visibilização do Outro, uma vez que só é possível conhecer o Outro, quando o EU dessassediado de si mesmo se lança com humildade e honestidade para contemplar a face alheia com todas as suas dinamicidades, para daí retornar novamente para si, só que agora comportando elementos objetivos que introduzirão no EU (caracterizado pelo ego-geno, sócio-centrismo) ao OUTRO (o alter, geno, sócio-holismo).
Daí, a provocação de Tolle, que a meu ver joga luz a toda uma estrutura invisível capaz de produzir efeitos não só contraproducentes, no que diz respeito ao SER, como epistemícida quando aplicado ao outro que automaticamente em decorrência do capital cognitivo já internalizado pela cultura, acaba por cometer epistemícidio.
Ora, é necessário desprender-mo-nos das amarras subjetivas que nos amarram, para daí lançar-mo-nos ao desconhecido, só assim desbloquearemos as limitações impostas pelo ostracismo epistemológico que nos habita.
Como destacou Tolle, na verdade não usamos a mente de forma errada, na verdade não a usamos, é ela que nos usa!
Não somos nossa mente, somos aquilo que ela pensa?!
Estranho? Não é mesmo?
A ilusão de pensar que somos nossa mente racional table d'hôte (menu fixo) é uma tentação que precisa ser vencida com uma dose, talvez de psicanálise que à la carte oferece-nos outras modalidades explicativas.
A questão é que muitos acreditam que são a sua mente, confundindo identidade com pensamento, ora é preciso lembrar que nem sempre o que pensamos corresponde com aquilo que somos, os delírios, surtos psicóticos dão conta de confirmar essa proposta.
E se ao invés de você usar integralmente a sua mente, você a usasse parcialmente? Já pensou nessa possibilidade?
Enfim, o fato é que a sua mente não cessa de pensar e a liberdade começa quando percebemos que não somos a entidade dominadora, o pensador.
Portanto, saber disso nos permite observar a entidade, pois no momento em que começamos a observar o pensador, ativamos um nível mais alto de consciência. Começamos a perceber, então, que existe uma vasta área da inteligência além do pensamento, e que este é apenas um aspecto diminuto da nossa limitada inteligência.
Paulo Mazarem
Prof. Pr. Paulo Mazarem
Florianópolis
Comentários
Postar um comentário