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SÓ PENSA NAQUILO?



    A lista dos sete pecados capitais não consta da Bíblia Sagrada, como todos sabem. Aliás, foi o monge grego Evagrius do Ponto, no contexto do movimento monástico no deserto do Egito do século IV quem primeiro identificou o que considerava ser, as principais paixões humanas. 

 

    Na verdade, foi no século VI que o papa Gregório Magno consolidou a lista clássica registrada no catecismo do catolicismo romano que procurou amplificar o assunto, encontrando na teologia a gravidade destas disfunções, numa lista que hoje é bem conhecida. Por certo, desde o século XVII, a lista dos pecados capitais, melhor aceita, está assim estabelecida: “soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça.”

 

    Como o foco da nossa reflexão e análise será o “pecado da luxuria”, já vamos adiantando que luxuria não é sinônimo de “luxo” como muitos pensam e nada tem a ver com uma vida próspera, isenta de preocupações de ordem financeira.  

 

 Todavia, iremos no concentrar na luxúria que até onde se sabe é o vício que leva homens e mulheres a realizarem atos sexuais desordenados. Ora, desassediados de qualquer premissa puritana, é preciso dizer que o sexo é sagrado, quando elevado ao nível de conjugalidade, todavia, quando reduzido à categoria de satisfação exclusivamente sexual, torna-se impossível diferenciá-lo do sexo animal. 

 

    Não é por acaso que o matrimônio, foi a invenção mais sofisticada em termos antropológicos e jurídicos, cujo núcleo foi a religião, porque assim é possível proteger a instituição familiar, bem como o ato sexual e tudo o que a ele se relaciona.

 

    O fato é que a questão aqui não é matrimônio, mas sexo e a luxúria não está vinculado ao quanto de sexo você faz, mas sim, o quanto ele ocupa a sua mente. 

 

    A proposição mais legitima a respeito do assunto, é realizada por Richard Fostes, quando disse que a sociedade fala muito sobre sexo ele termos de abrangência (vulgarização) e pouco em termos de profundidade, (teleoéxis – finalidade existencial) motivo pelo qual o tema é ainda tabu. Sim, sexo é tabu na empresa, é tabu na Igreja, é tabu na escola. As pessoas não falam, mas pensam em sexo e talvez, seja por sua negação que tenhamos a neuroerotização e a obsessão por ele. 

 

    Quando pensamos, o assunto a partir de uma perspectiva cristã, a impressão que se tem é que Deus habita o coração e o diabo ao meio de nossas pernas. É claro que este modelo de pensamento é contraproducente. E seja, por este motivo, que muitos tem se percebido, envoltos na pornografia e aos mais medíocres desejos de natureza sexual. 

 

    O fato é que o antídoto contra a luxúria não é a exposição a ela, muito menos a sua repressão, se não produzirmos uma consciência madura a respeito do assunto, jamais sairemos na fase da menoridade intelectual. 

 

    Segundo o G1 22 milhões de brasileiros assumem consumir pornografia e 76% são homens, diz a pesquisa. A gospel prime divulgou em 2018 que 2 em cada 3 cristãos acessam pornografia mensalmente. 

 

    O fato é que esses números não podem ser naturalizados como se isso fosse algo comum, porque a pornografia além de zumbificar a alma humana, gerando depressão, ansiedade, ruína econômica, problemas no casamento e separação; também nulifica pessoas incríveis, tornando-as em meros pedaços de carne!

 

    Em suma, a luxúria é responsável pelo cultivo de pensamentos libidinosos, atos imorais, dissolvência de relacionamentos familiares e tantas outras anomalias, talvez seja por este motivo que ele esteja condenado ao epíteto de pecado. 

 

    Uma vez que o pecado é como um caixa de pandora, capaz de liberar forças destrutivas, incalculáveis e imprevisíveis. 

 

    É pecado porque ludibria a vida, engana o sistema cognitivo e oferece recompensas que jamais serão entregues. É pecado, uma vez que promete fundos e mundos que jamais lhe tocarão, produzindo em detrimento desta realidade uma experiência existencial agônica.

 

 

POLARIZAÇÃO SEXUAL

 

    Os encratitas, uma seita dos primeiros séculos do cristianismo, imbuídos de um dualismo que considerava a matéria má, impunham, como condição para a salvação, a abstenção mesmo do uso legítimo do sexo no matrimônio, do vinho e, sobretudo, da carne. 

 

    Os vultos mais destacados dos encratitas foram absorvidos pelos maniqueus. Também os montanistas pregavam a dissolução dos vínculos conjugais, em vista da iminente catástrofe escatológica, da qual Tertuliano se alimenta para seu rigorismo sexual. 

 

    Tudo isso leva a um rigorismo ascético como norma ideal de perfeição cristã (Eusébio, HE, IV, 23, 6-8). O ideal de vida então proposto é o do monachos, ou seja, do homem solteiro e solitário, discípulo e imitador do Senhor. 

 

    Nesse contexto, desenvolveu-se, é claro, a ideia de que o nascimento do homem é algo intrinsecamente pecaminoso e que, portanto, o recém-nascido já entra no mundo manchado pelo “pecado do nascimento”. 

 

    Para ser libertado desse mal, ele precisa da purificação batismal. Os encratitas negam o batismo aos casados. 

 

    Considerando o uso do sexo, mesmo dentro do matrimônio, sempre negativo, tal ideal não só levou os homens a formas de vida solitária, mas também a audácia da automutilação (Orígenes). 

 

    Em reação a tais extremos também surgem defensores da liceidade e bondade de um uso equilibrado da sexualidade. Clemente de Alexandria dedica todo o livro III dos Stromata à refutação das doutrinas encratitas e gnósticas. 

 

 

    O debate sobre a sexualidade foi retomado com maior vigor, nas comunidades cristãs, durante o século IV. A mundanização da Igreja desencadeou novas energias monásticas, produzindo vasta literatura sobre a virgindade. 

 

Os Padres latinos parecem mais inclinados a exaltar a virgindade que os Padres gregos do Oriente. Nesse contexto, surge Agostinho como primeiro a elaborar uma teologia completa dos bens matrimoniais: a fidelidade, a indissolubilidade e a procriação. 

 

    Santo Agostinho (354-430), que, durante nove anos aderira ao maniqueísmo, sofreu todas as influências bíblicas e extrabíblicas, mas iniciou uma tradição teológica posterior sobre a sexualidade e o matrimônio que predominou, pelo menos, até meados do século XX. Não foi o primeiro teólogo cristão a ocupar-se de ética sexual, mas foi ele que precisou e fixou as grandes linhas da concepção cristã do Ocidente nessa matéria. 

 

 

VISÃO CRISTÃ DA SEXUALIDADE HUMANA.  Urbano Zilles Teocomunicação, Porto Alegre, v. 39, n. 3, p. 336-350, set./dez. 2009

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