A
autora prefacia sua obra dizendo que a “contaminação nunca é um acontecimento
isolado” e constrói no decorrer de sua abordagem inferências que superam
interpretações religiosas até por que segundo ela qualquer interpretação
fragmentária das regras de poluição estão destinadas a falhar.
Mas
o que é impuro ou puro? Por que uns animais são e outros não? A autora mergulha
no tema fazendo as mais diferentes analogias entre animais considerados puros e
impuros constatando logo de inicio que tal hermenêutica está recortada por duas
modalidades.
De
acordo com Douglas (2012 p. 59-60):
“Todas as interpretações dadas [...]
alinham-se em dois grupos: ou regras são sem sentido, arbitrárias por que seu
intento é disciplinar e não doutrinário, ou elas são alegorias de virtudes e
vícios”.
A autora menciona Maimônides que descarta a
interpretação biologizante do simbolismo inferindo que as regras dietéticas não
são apenas simbólicas e para isso lembra Epstein que entende que as regras
dietéticas não são simbólicas, e sim éticas e disciplinares.
Visto que, as interpretações a respeito do que é puro e impuro variam muito de contexto para contexto estando estruturadas em ideologias bíblicas que atribuem interpretações religiosas para justificar as definições. De Levítico à Deuteronômio dois livros da Bíblia hebraica (Tanach), a autora procura elencar animais que são denominados puros e impuros abrangendo desde os animais aquáticos, terrestres até aqueles que são do ar, sinalizando que as classificações valorativas são realizadas e ressignificadas via simbolismo, extração pedagógico-moral, uma boa vida, qualidade dos alimentos para a manutenção do corpo e consequentemente da saúde, enfim como já dito a autora aborda que as interpretações religiosas negam qualquer significado às regras, expressando confusão num modo erudito, principalmente quando se analisa os textos através de uma ótica critico-históricos.
Visto que, as interpretações a respeito do que é puro e impuro variam muito de contexto para contexto estando estruturadas em ideologias bíblicas que atribuem interpretações religiosas para justificar as definições. De Levítico à Deuteronômio dois livros da Bíblia hebraica (Tanach), a autora procura elencar animais que são denominados puros e impuros abrangendo desde os animais aquáticos, terrestres até aqueles que são do ar, sinalizando que as classificações valorativas são realizadas e ressignificadas via simbolismo, extração pedagógico-moral, uma boa vida, qualidade dos alimentos para a manutenção do corpo e consequentemente da saúde, enfim como já dito a autora aborda que as interpretações religiosas negam qualquer significado às regras, expressando confusão num modo erudito, principalmente quando se analisa os textos através de uma ótica critico-históricos.
As
alegorias são tantas que a autora cita Filo para interpretar as regras
dietéticas dizendo que “peixes com barbatanas e escamas, admitidos pela lei,
simbolizam persistência e autocontrole”,
e com um adendo observante introjeta a ideia que a doutrina cristã
exportou tal hermenêutica.
No
entanto ainda tais leituras são insuficientes, pois falham como interpretação.
Logo a seguir a autora re-menciona Maimônides dizendo que sua análise dietética
era comparativa isto é, os judeus não poderiam ferver o leite o cabrito no
leite da mãe por que isso era um ato ritual da religião nos canaanitas, porém a
autora elogia o “Rambam” quando ele justifica que os sacrifícios realizados
pelos israelitas eram como que um estágio de transição, cujo percurso era
transitório com o intuito pedagógico de afastar os israelitas paulatinamente de
seu passado pagão.
Com
isso a autora aponta para a direção dada por outros teóricos-interpretes que
viam na influência religiosa de outras culturas a força motriz para justificar
algumas práticas religiosas particulares, confirmando a tese de que toda
religião é sempre “autóctone” e ao mesmo tempo subvencionadoras no “ethos” de
um povo.
Mas
a autora insiste e afirma que tais interpretações ainda assim não dão conta de
responder compreensivamente a questão de pureza e impureza.
E
finalmente ela destaca que a cultura do puro e impuro reside na ideia de
completude e não completude, isto é, a incompletude. Para ela tal compreensão é
possível a partir do antagonismo “santidade e abominação que dá um sentido mais
amplo a todas as restrições”, pois se a raiz de “Santidade” significa estar “separado”,
a ideia que emerge é a do “sagrado como integridade”. E para isso ela lembra
que a maior parte do Levítico é dedicada a enfatizar a perfeição física
requerida das coisas apresentadas no templo e das pessoas que dele se
aproximam.
Sendo
assim a ideia de totalidade deve solapar todas as dimensões da vida humana,
seja social, psicológica, física, bélica e religiosa traduzindo a ideia de
pureza e totalidade a partir do sagrado. A autora menciona a palavra
“perversão” por exemplo, é a tradução incorreta da palavra hebraica “tebhel”
que significa mistura ou confusão.
Desta
maneira por exemplo todas as prescrições são prefaciadas por um imperativo
hegemônico: “Vós sereis santos, porque eu sou santo” e a santidade requer que
os indivíduos se conformem à classe à qual pertencem. E a santidade requer que
distintas classes de coisas não se confundem.
Portanto
é assim que a autora dirige para o final de sua obra dizendo que o principio
subjacente de pureza dos animais, por exemplo, é que eles sejam totalmente
conformes à sua classe sendo impuras as espécies que são membros imperfeitos de
suas classes ou cuja própria classe confunde o esquema geral do mundo. De
acordo com Douglas (2012, p. 72):
Para atingir este esquema precisamos
retornar ao Gênesis e à criação. Aqui se desdobra uma classificação tripartida,
dividida entre a terra, as águas e o firmamento. O levítico toma este esquema e
atribui para cada elemento o tipo de vida apropriado. No firmamento aves de
duas pernas voam com asas. Na água, peixes com escamas nadam com nadadeiras. Na
terra, animais de quatro pernas pulam, saltam ou andam. Qualquer classe de
criaturas que não esteja equipada para o tipo correto de locomoção no seu
elemento é contrária à santidade. O contato com ela desqualifica uma pessoa a
aproximar-se do Templo. Portanto qualquer coisa da água que não tenha
nadadeiras e escamas é impura.
Se
a interpretação proposta dos animais interditos estiver correta, então as
prescrições alimentares eram como sinais que a cada momento inspiravam a
meditação na unicidade, na pureza e na plenitude de Deus. Estas regras de
esquivar-se permitiam aos homens exprimir materialmente a santidade em cada
encontro com o reino animal e a cada refeição. A observância das prescrições
alimentares seria assim, uma parte significativa do grande ato litúrgico que
era o reconhecimento de Deus e a sua adoração e no ato que culminava no
sacrifício no Templo.
É
assim que a autora encerra “a abominação do Levítico” dando a entender que a
restrição aos alimentos ou as regras dietéticas não são eclipsadas por uma restrição
meramente religiosa, ética, biológica ou disciplinar e sim ontológica estando
estreitamente vinculada a ideia de Sagrado, Santo, Perfeito, integral e,
portanto completo. Distinguindo e destacando que a finalidade ou perda seja ela
qual for, de uma coisa quando não realizada para um fim reproduz uma imagem de
anomalia, desvio e impureza. Com essa referência metodológica a autora desloca
pré-concepções, inclusive religiosas e faz seu leitor mergulhar no verdadeiro
significado ontológico da questão, pureza-impureza.
Destarte
que a obra da autora torna-se indispensável para superarmos conceitos
antecipados quase sempre forjados e carregados de alta conotação
valorativa, com essa analise tão genial
á respeito das restrições e das regras dietéticas praticadas pela comunidade
hebreia ou judaica, a obra vem enriquecer e plenificar o contexto vago
hermeneuticamente com essa excelente proposta compreensiva e como dizia
*Heidegger "O Sagrado não é Sagrado, porque divino, mas o divino é divino
porque Sagrado".
Portanto
o “puro é puro não por que divino, mas sim por que Sagrado”. (Grifos Meus)
*
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, Martins Fontes, 2007.
MARY,
Douglas. Pureza e Perigo. [tradução Mônica Siqueira Leite de Barros, Zilda
Zakia
Pinto]. - 2ª .ed. - São Paulo: Perspectiva, 2012. p. 57- 74 (Debates; 120)
Paulo
Roberto Souza Mazarem
Universidade
de São José, SC- Brasil.
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