By Edgar Morin; Paulo Mazarem.
As estrelas vivem graças a um fogo que as faz existir e, ao mesmo tempo, as devora; a vida delas é uma agonia radiante visto que elas alimentam o seu brilho com a combustão das próprias entranhas, ou seja, "morrem de vida" até alcançar a morte irreversível.
O mesmo ocorre com os ecossistemas, que "vivem de morte". Também é assim conosco, os animais, mamíferos, primatas, seres humanos, vivemos, pela morte e pela destruição delas, da regeneração permanente das nossas células e moléculas.
O mesmo vale para as nossas sociedades, que se regeneram educando as novas gerações enquanto morrem as antigas. "Viver de morte, morrer de vida", enunciou Heráclito.
Bichat definia a vida como o conjunto das funções que resistem à morte. Isto é, parafraseando o seu enunciado, "a vida resiste à morte utilizando a morte". Há, ao mesmo tempo, luta mortal e cópula entre Eros e Tânatos.
By Paulo Mazarem
No entanto é objetivável a máxima tanatológica de que tememos aquilo que existe além da conceitualidade, nos assustamos diante do abrupto (inesperado), ou da possibilidade extintiva de ser e de existir, pois à internalizamos (não só a morte, mas a decrepitude) como aniquilamento, como o "the end" da vida, talvez por esse motivo nunca na história humana o "carpe diem" fomentasse tanto o "zeitegeist" existencial dos homens.
Os filósofos distinguem a vida em seu sentido biológico e em seu sentido humano e universal. A importância que a vida, em seu sentido geral, vem tomando no pensamento moderno, determinou o nascimento de uma filosofia da vida, onde esta é considerada como centro da realidade e base dos juízos de valor.
Para o mecanicismo a vida se reduz a matéria e ao movimento, os organicistas explicam a vida pela organização, já o vitalismo explica os fenômenos da vida pela ação de um principio vital, o que não acontece no caso com os animistas que explicam todos os fenômenos vitais pela ação da alma que é, ao mesmo tempo, princípio da vida e do pensamento.
Para o cristianismo, a vida em sua verdadeira significação é eterna.
Porém, quem não "savoir-vivre" jamais saberá morrer, pois só entende de morte quem entende de vida e nisso não há contradição, até por que nossos sábios disseram que morte nunca é conclusão e sim expiração do corpo biológico e passagem radical para uma novidade de vida.
Aliás, "Morte onde está o teu aguilhão? Exclamará o Apóstolo Paulo.
Se morrer é um processo aparente e não real, físico e não ontológico, um simulacro da verdadeira morte, isto equivale afirmar que ressurreição deve ser algo para os vivos e não para os mortos, uma vez que muitos vivos já estão mortos em si mesmo.
Nesse sentido morte recai a revolta metafisica do homem e à perda do senso da felicidade estético que além de ser fenomenológica é um "Up" que convida o homem a transcender a sí mesmo.
Como dissera Richard Rorty ao citar o epílogo de Nabokov:
Para mim, uma obra de ficção só existe na medida em que me deixa ficar numa felicidade estética, uma sensação de estar ligado com outras formas de existência, em que arte [...] é a norma.
Ora, a arte é a arte e perpetuação do devir nesse constante e ininterrupto processo que insiste em solapar a morte e vencê-la pela obra.
Não acredito na morte, acredito numa vida não vivida que se traduz como morte e tragédia ontológica do Ser.
Referências:
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.
RICHARD RORTY, FILÓSOFO - O BELO E A CONSOLAÇÃO
SANTOS, Miranda Theobaldo. Manual de Filosofia. 16ª ed., São Paulo, Companhia das Letras, 1970. p.275
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