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CASAMENTO E AMOR LÍQUIDOS EM TEMPOS PÓS-MODERNOS




"Quando os espíritos não se casam os corpos ficam viúvos". Evaristo Dedíasi. 

Sim, como viver num mundo de parcerias frouxas e eminentemente revogáveis? 

De fato, o casamento na historiografia ocidental foi/é assunto que provocou muitas reflexões. Mas nos dias de hoje, como o casamento é/tem sido visto? Qual é o lugar do casamento na sociedade? E como ele vem sendo analisado por intelectuais, historiadores e sociólogos.

O texto que escrevo aqui pretende analisar as falas do Sociólogo Polonês Zigmund Bauman e da historiadora Mary del Priori.

Começaremos com a Drª Mary del Priori.

VEJAMOS: 



Embora a análise da historiadora seja local, (isto é, da sociedade brasileira do período colonial até o presente momento) suas leituras são fundamentais para pensarmos o tema em outras sociedades. E é aqui que Bauman nos brinda com uma reflexão mais generalizada e holística a respeito do amor, da sexualidade e do casamento. 

O sociólogo polonês, fundamenta seu entendimento sobre os dias atuais na noção de liquidez, fluidez, etc. Em “Modernidade líquida” (2001), associa as características da  contemporaneidade à dos líquidos.
Isso porque, ao acondicionarmos um líquido em um frasco, temos a ilusão de que ele possui aquela forma. 

No entanto, basta o retirarmos do recipiente que notaremos que não possui forma alguma e que qualquer tentativa de moldá-lo será em vão. Ora, com base nessa noção de liquidez o sociólogo criará a categoria do "amor líquido". Bauman (2004) parece primeiramente buscar distinguir o amor líquido do amor que parece considerar verdadeiro.

A tese de Bauman é que vivemos em um mundo líquido, que detesta tudo o que é sólido e durável, tudo que não se ajusta ao uso instantâneo nem permite que se ponha fim ao esforço. 

O amor, nesse mundo líquido, é "amor líquido". Um Outro teórico chama-se Anthonny Giddens, célebre analista da chamada pós-modernidade que fala dos "relacionamentos puros", onde as relações permanecem enquanto satisfazem as partes. Mas retornemos para a proposta do Sociólogo Polonês para pensar a forma como os relacionamentos são constituídos. Segundo ele, são relacionamentos nos quais se entra apenas pelo o que cada um pode ganhar e se permanece apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma satisfações suficientes para permanecerem nas relações. 
Assim, viver juntos é "por causa de" e não "a fim de". Logo, a ideia de propósito é substituída pela ideia de utilidade ou utilitarismo para ser mais cirúrgico.         

Os relacionamentos passam a ser vistos como investimentos que só valerão a pena enquanto continuarem a gerar lucros relevantes. É como se tratássemos de um mercado de ações.

O amor líquido é personificado, ainda, no que Bauman (2004) denomina “relação de bolso”, que encarnaria a instantaneidade e a disponibilidade. Enquanto há razões a parceria permanece.

Os parceiros já não se enxergam como construtores de si mesmos, um do outro e da própria parceria.       
     
Em relação à sua duração, o amor líquido não só é eterno enquanto dura, como tem sua continuidade constantemente avaliada, afirma Bauman (2004).

Parcerias frouxas e eminentemente revogáveis substituíram o modelo da união pessoal "até que a morte nos separe". Bauman chama isso de "relacionamentos de bolso", que compara com vitamina C: em grandes doses podem causar náuseas e prejudicar a saúde. Por esta razão, a "sociedade líquida" prefere os relacionamentos diluídos, para que possam ser aproveitados.


Sendo assim, os relacionamentos, assim como os produtos, tornam-se descartáveis e devem ser consumidos instantaneamente, pois, ao nos envolvermos em um relacionamento, também fechamos as portas momentaneamente para outros.

E, assim como os produtos eletrônicos, os relacionamentos também teriam novas versões, sempre mais aperfeiçoadas do que as anteriores e feitas sob medida para despertar um desejo muito forte de possuí-las.

Enfim, Bauman (in memoriam) nos brinda com uma reflexão atual a respeito das relações sociais no mundo moderno liquido. 

Paulo Mazarem
Florianópolis
06 Fev. 17

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