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A RAÇA HUMANA E O OBSOLETISMO ANTROPOLÓGICO DA CPAD




Em biologia evolutiva, sistemática e taxonomia, o termo “raça” é uma subdivisão da espécie, equivalente ao termo subespécie, embora nos processos de seleção artificial e domesticação de animais, raças veterinárias podem ter inúmeros outros significados.   A “raça” na biologia evolutiva resulta de processos de divergência populacional, principalmente por seleção natural e deriva genética. Esse termo é mais apropriadamente aplicado a populações (ou grupos) geograficamente restritas que possuem um isolamento reprodutivo significante em relação a outras populações.

Portanto, “raças” biológicas surgem no caminho da especiação, sendo muitas vezes reconhecidas como espécies incipientes (ou quasi-espécies). Espécies silvestres, que possuem subespécies (raças) bem definidas, têm geralmente origem muito antiga (milhões de anos), com populações apresentando grande divergência genética acumulada durante várias gerações de isolamento.

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Nas espécies reconhecidas de acordo com o conceito biológico de espécie, essa diferenciação de subespécies deve resultar no início da formação de algumas barreiras reprodutivas.  Esse é o caso do chimpanzé, espécie que é dividida em três subespécies (raças), que, à primeira vista, para nós são muito semelhantes (Templeton, 2013). Outras divisões populacionais claras são também encontradas entre os gorilas e os orangotangos, mas não na espécie humana.


PROJETO GENOMA HUMANO


Até o final do século XX, acreditavam que existiam raças humanas diferentes, mas, desde que o Projeto Genoma Humano analisou a genética de diferentes raças, os resultados apontaram que as diferenças genéticas entre as raças eram muito pequenas, e que o determinismo ambiental e o neodarwinismo, como justificativas das diferenças genéticas entre os seres humanos do Velho Continente, do Novo Continente e do Novíssimo Continente, revelaram-se irrelevantes e mostraram que as diferenças genéticas entre uma pessoa negra e um caucasiano não existem. A partir do resultado das pesquisas que ocorreram nos primeiros anos do Projeto Genoma Humano, passou-se, então, a considerar o conceito de raças humanas como "obsoleto", "perigoso" e "tóxico".

Ora, do ponto de vista científico, como já demonstrou o Projeto Genoma, o conceito de raça não pode ser aplicado a seres humanos por não existirem genes raciais na nossa espécie; isso corrobora teses anteriores, que negavam a existência de isolamento genético dentre as populações. Assim, para a espécie humana "raça" corresponde a um conceito social, não a conceito científico.



Claude Lévi Strauss- O fundador da antropologia Estruturalista



Para Lévi-Strauss, não faz sentido discutir o sentido da Raça Humana, pois o número das diferenças baseadas em características corporais é muito pequeno quando comparado com as semelhanças genéticas dos indivíduos. Por isso Lévi-Strauss centraliza sua tese no conceito de cultura. 

Aliás em sua obra “Raça e História” texto inscrito num contexto de pós 2ª Guerra Mundial, onde a Humanidade estava muito abalada pelo grande número de mortes causadas por diferenças raciais. A UNESCO então solicitou que diversos estudiosos discursassem sobre o tema com o intuito de acabar com o CONCEITO DE RAÇA HUMANA. Lévi-Strauss constrói esse texto para desarticular o conceito de que haveria uma superioridade entre as raças (brancas, negras e amarelas.)


Um problema de cunho teórico trazido pelos evolucionistas, que na medida em que houve uma ascensão do Nazismo, se tornou de fato um problema para o mundo. Segundo Lévi-Strauss:


  • [...] mas o pecado original da antropologia consiste na confusão entre a noção puramente biológica da raça (supondo, por outro lado, que, mesmo neste campo limitado, esta noção possa pretender atingir qualquer objetividade, o que a genética moderna contesta) e as produções sociológicas e psicológicas das culturas humanas. Bastou a Gobineau ter cometido este pecado para se ter encerrado no círculo infernal que conduz de um erro intelectual, não excluindo a boa-fé, à legitimação involuntária de todas as tentativas de discriminação e de exploração. (RAÇA E HISTÓRIA- Strauss, p. 1)



Franz Boas - Pai da antropologia moderna



Um outro antropólogo que muito contribuiu para a desconstrução deste jurássico conceito foi franz Boas da escola norte-americana que trazendo para a pauta a temática "raça, evolução e cultura", isso em 1911 em sua obra [The mind of primitive Man],  que traduzida para a língua portuguesa no Brasil com o seguinte nome “A Mente do Homem primitivo” pela (Ed. Vozes em 2011).





Essa obra foi tão importante para o conceito desconstrução de raça que Hitler um dos maiores biblioclastas (e racistas) de nossos tempos mandou queimar não só a Bíblia, mas essa importantíssima obra de Boas, juntamente com os judeus, incinerando-os nos campos de concentração.

É importante dizer que nessa obra Boas desmonta definitivamente o conceito de raça humana e evolução ontogênica como paradigma do pensamento antropológico demonstrando que nenhum grupo humano é biologicamente superior a outro. 


O cristianismo – embora nem todos os cristãos – tem sido anti-racista desde o seu início. Segundo Paulo: “Não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl. 3. 28), e ainda: “E de um só fez toda a geração de homens, para habitar sobre toda a face da terra” (At. 17. 26).

A imagem ilustra que o conceito de raça se aplica a animais e não a seres humanos


A RAÇA HUMANA OU GERAÇÃO HUMANA? ORIGEM, QUEDA E REDENÇÃO


(Evellyn Beatrice Hall - 1868-1919, biógrafa de Voltaire)



A capa da lição deste primeiro trimestre vem com o título: “A RAÇA HUMANA”, conceito que traz a memória tantas mazelas e dominações e até ignorância em relação ao conceito.

Poderíamos citar alguns nomes do darwinismo social, como foi o caso de Herbert Spencer, Georges Cuvier, Goubineau que se valeram deste conceito científico cujas teses deram suporte político a dominações, escravidões, holocaustos, etc... motivo pelo qual o termo utilizado “a raça humana” é uma ofensa a humanidade, uma vez que sua aplicação evolucionista se aplica a animais e não a seres humanos, a não ser que o escritor da lição considere humanos como animais evoluídos!




Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882)


Para se ter uma ideia segundo o conde Francês Joseph Arthur de Gobineau, em artigo escrito para o periódico francês Le Correspondant, no ano de 1874, intitulado L’émigration au Brésil, os brasileiros seriam uma raça extinta em menos de duzentos anos. Isso por serem, em sua maioria, uma população mestiça, fruto da mestiçagem entre índios, negros e um pequeno número de portugueses.

Portanto, é preocupante encontrarmos numa lição tão apreciada por todos aqueles que amam a palavra de Deus, um título que se constitui como uma verdadeira heresia “antropológica”, logo de capa, sem contar as inúmeras digressões teológicas no seu conteúdo. 

Enfim, jamais esqueçamos que um pedantismo descontextualizado só aliena, nunca liberta. (Jo 8. 32)


Paulo Mazarem
Florianópolis
04 Jan. 20



REFERÊNCIAS:

Darwinismo Social. Disponível em: < http://www.simonsen.br/eja/arquivos-pdf/socio2-cap5.pdf > Acesso em: 04 Jan. 20

Franz Boas, biografia do pai da antropologia moderna. Disponível em:<https://amenteemaravilhosa.com.br/franz-boas-biografia-pai-da-antropologia-moderna/ > Acesso em: 04 Jan. 20


SANTOS, Fabrício. A grande árvore  genealógica  humana. Disponível em: < https://www.ufmg.br/revistaufmg/downloads/21/05_pag88a113_fabriciosantos_agrandearvore.pdf > Acesso em: 04 Jan. 20

SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. extinção dos brasileiros segundo o conde Gobineau. Disponível em: <https://www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=993 > Acesso em: 04 Jan. 20

STRAUSS, Claude Lévi. Raça e História -Disponível em:<https://we.riseup.net/assets/231452/Ra%C3%A7a-e-Hist%C3%B3ria-L%C3%A9vi-Strauss.pdf > Acesso em: 04 Jan. 20



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