Quem nunca utilizou a comparação como uma medida para avaliar, classificar ou valorar os comparados? Quem nunca viu neste modelo de pensamento a possibilidade de descrever os objetos ou sujeitos equiparados?
A questão é que neste processo ou esquema de pensamento perdemos do horizonte uma série de fatores que arbitrariamente não coexistem com a realidade dos que sub-júdice são colocados. É por isso que quase sempre, nenhuma comparação é isonômica e hifenizada. Na verdade, toda comparação é verticalizada, assimétrica, descontextualizada e injusta.
É assimétrica porque não nivela qualidades, habilidades ou a cultura do comparado, verticalizada porque esta posta de cima para baixo, descontextualizada pois não leva em consideração o contexto dos contrastados. E finalmente, é injusta, porque solapa processos históricos, currículos, invisibilizando acessos que foram permissivos para uns e ilícitos para outros.
Em suma, comparações seguem um fluxo que desconhece e ignora as composições culturais, comunitárias, étnicas e singulares dos comparados.
No Ocidente, a comparação ao invés de ser um convite alteritário e contemplativo às diferenças, passou a ser um marco demarcatório e fronteiriço de imposições e limites quase sempre impregnados de uma concepção hierárquica de quem pode mais ou quem manda mais. Logo, não se percebe dissolvência nas diferenças, mas exclusão, rejeição ou até mesmo exclusão do comparado, numa ordem binária e maniqueístas.
Como bem nos lembrou, Lévi Strauss:
Em razão do etnocentrismo, há uma grande dificuldade de se perceber a diversidade das culturas como um fenômeno natural [...], tende-se a ver a diversidade como “escândalo” ou “monstruosidade” e considerar a própria sociedade e o modo particular de vida como centro referencial: o mais correto e o mais natural. (apud, TEIXEIRA, 2002, p. 6 )
O pai do estruturalismo antropológico, prossegue dizendo que o escândalo da diferença é um processo que vem desde o nascimento e que se acumula no indivíduo, por diligências diversificadas num sistema complexo de referências, traduzido em juízos de valor(es), motivações e interesses, acompanhando permanentemente o individuo permitindo-lhe ver as realidades culturais que se mostram diferentes como deformações que lhes foram impostas.
Já o filósofo dos pré-conceitos, Gadamer diria que isto, nada mais é do que resultado do patrimônio cultural do indivíduo que permanece inapto para realizar uma hermenêutica de trans/posição. Um outro pensador não menos importante é Francis Bacon que em sua taxinomia classificou isso pelo epíteto de ídolos: caverna, tribo, mercado e teatro.
Pierre Bourdieu fala-nos sobre “capital cultural”. O epistemólogo Edgar Morin serviu-se do “imprinting cultural” que impõe uma marca sem retorno no indivíduo.
E encerro destacando que a meu ver, a massa é vítima daquilo que denominaria de processo de assédio cultural produtor de viseralismo epistemológico.
Em princípio, “assédio” porque a cultura é responsável pela manutenção da alienação perpetuada sobre o individuo e viseralismo epistemológico porque o individuo interpreta o mundo de modo unívoco e monista, desconhecendo o pluralismo ideológico, cultural e científicos presentes nas mais diferentes sociedades.
Enfim, a comparação segundo minhas leituras (pelo menos no Ocidente) é uma armadilha que deve ser evitada por um intelectual que se preze!
Paulo Mazarem
Mestrando em Ciência da Religião - Universidade Lusófona (UHLT)
Licenciado em Ciência da Religião (USJ) e Bacharel em Teologia (FACASC)
Coordenador da Faculdade Mais de Cristo.
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