Não há verdade verdadeira que não seja subjetiva, isto é apropriada.
Afinal de contas, quem é o pai do existencialismo? Já ouvi muitos afirmarem que é Jean Paul Sartre, outros Dostoievski, mas será mesmo?
Com o fim de responder essa questão, é preciso dizer, sem rodeios, que o pai do existencialismo é o teólogo dinamarquês Sören Kierkegaard. Depois, da Primeira Guerra Mundial ele se tornou um dos autores mais lidos e estudados, primeiro na Alemanha e depois no mundo inteiro. Um dos maiores estudiosos de Kierkegaard na Europa é o italiano Cornélio Fabro.
Sören Kierkegaard, ante de tudo, é um dos mais violentos opositores de Hegel. Vivendo e escrevendo na Dinamarca, também contagiada pela imensa influência de Hegel, participa da reação contra ele, liderada por Feuerbach e Marx e outros jovens hegelianos. Mas enquanto Feuerbach e Marx criticavam o idealismo e o espiritualismo de Hegel, Kierkegaard investe contra o universalismo abstrato e o racionalismo dialético de Hegel.
O ponto de partida é o conceito de realidade. Feuerbach e Marx atacavam a Hegel, porque para eles, a realidade era a matéria, não o espírito. Kierkegaard o combate, porque, para ele, a verdadeira realidade é o existente, o singular, e não o universal. O individuo é a categoria através da qual [...] esta era, toda a história e a espécie humana como um todo deve passar. O indivíduo existente particular é a categoria básica. O real é o particular – não o racional ou universal, como em Hegel. A oposição de Kierkegaard a Hegel é mostrada na sua teoria de que o eu particular existente é anterior a qualquer conceito de um eu universal. Para Hegel, cada eu é um exemplo do universal em virtude do qual o particular é um eu, isto é, o que se pensa ser um eu. A essência – o que é pensado e é universal – precede a existência, isto é, o que concretamente vivido pelo sujeito particular. Ora, se para Hegel o pensamento é a essência universal das coisas, para Kierkegaard a existência é a prioridade. O pensamento conceitual Hegeliano é abstrato, impessoal e passivo; o pensamento existencial é concreto, pessoal e apaixonado, isto é, subjetivo.
Portanto, a verdade existencial é subjetiva porque tem a verdade com preocupações últimas. Logo, a essência da subjetividade é a liberdade. A liberdade não é meramente um indeterminismo metafísico; ela está implícita na escolha, o que significa dizer que o que alguém irá se tornar deve ser livremente escolhido em um ato incondicional ou “salto” de fé. Esse salto traz um movimento recíproco do incondicionado – Deus – para a existência humana e é o que se entende por viver pela fé.
Em suma ele é o filósofo do singular, chegando manifestar o desejo que em seu epitáfio fossem inscritos os seguintes dizeres: “Aquele singular”. Para ele somente o singular humano tem consciência de sua singularidade, isto porque o singular é a categoria através da qual ... devem passar ... o tempo, a história, a humanidade. É preciso dizer que Kierkegaard se opunha a mentalidade da época que via no socialismo e comunismo a panacéia dos males da sociedade. Não pode haver igualdade neste mundo, como sonham os socialistas, porque lhe é própria a diferenciação. Para Kierkegaard- pelo menos nos últimos anos de sua vida, a sociedade não passa de um conjunto de criaturas animais que parecem com o rebanho. A sociedade, segundo ele quer que cada um de nós seja como os outros. Nela o ideal dos membros é comportar-se em conformidade com os outros. Deste modo, é considerado normal quem aceita e se adapta aos padrões e valores comumente recebidos e excêntrico e rebelde quem se recusa a receber os valores por ela inculcadas.
Ora, é por isso que a singularidade é uma conquista difícil. A maior parte dos homens são somente "eus", por assim dizer, refreados em si mesmos. Em lugar de tornar-se verdadeiros "eus", se transformam numa terceira pessoa genérica. Não são mais eles que pensam e agem, mas um outro indefinido, uma espécie de "eu" universal e impessoal, como dizia Hegel.
Em suma, Kierkegaard convida-nos a ter coragem, de ousarmos ser nós próprios, ousarmos ser um indivíduo, não um qualquer, mas este que “somos”. E isto, porém, não será feito sem luta e sofrimento, é por isso que para ele a liberdade, não está livre de angústia.
Enfim, agora, você pode ler Sartre e entender por que a "existência precede a essência".
Paulo Mazarem
Mestrando em Ciência da Religião - Universidade Lusófona (UHLT)
Licenciado em Ciência da Religião (USJ) e Bacharel em Teologia (FACASC)
Coordenador da Faculdade Mais de Cristo.
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