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SÍNDROME DE BURNOUT

 

Contudo, se eu disser: “Não o mencionarei nem mais falarei em seu nome!”, é como se um fogo ardesse em meu coração, um fogo dentro de mim. Estou exausto tentando contê-lo; já não posso mais! (Jer. 20. 9.) 

 

Hoje vamos falar sobre a síndrome de Burnout e as suas ressonâncias na vida de profissionais inseridos no mercado em tempos de pandemia, bem como em ministros religiosos que sofrem os seus sintomas, muitas vezes sem saber que estão com Burnout.

 

Estamos na série psique, destacando desde o início que a terra dos tupiniquins, foi eleito pela OMS como o país mais ansioso e com o maior número de depressivos do planeta, pós pandemia, superamos os EUA e ficamos atrás apenas do Japão, quando o assunto é estresse. 

 

É por este motivo que precisamos estar atentos para as enfermidades da alma e lembrar o que foi dito pelos neurologistas que confirmaram que por mais que você sinta as doenças do pescoço para baixo, elas começam, na verdade do pescoço para cima!

 

E entre elas, está obviamente a Síndrome de Burnout, que a priori sempre existiu, o texto bíblico que lemos, nos mostra que no século 6 antes de Cristo, o profeta Jeremias teve uma crise de vocação em detrimento dessa experiência do tamanho do céu, levando-o, inclusive a querer desistir da sua vocação!

 

O que não é diferente nos dias de hoje! Uma pesquisa apontou que 19% dos pastores, deixou o ministério por causa da síndrome de Burnout. 


A síndrome de burnout (do inglês, burn out, esgotar, apagar) ou esgotamento.

 

É uma condição que vem sendo investigada pela psicologia há cerca de meio século.  

 

Como mencionei um exemplo, aqui já de pastores, vamos descrever como é a vida de alguém que aspira o episcopado.  A rotina de pastores e líderes cristãos é, no mínimo, intensa.  

 

Uma “lista básica” de atribuições inclui visitação; aconselhamento conjugal e familiar; assistência a enfermos; funerais; reuniões administrativas; gerenciamento de conflitos; estudo, preparo, apresentação de sermões e capacitações; estudos bíblicos; evangelismo; pequenos grupos; construções e reformas; representação da igreja junto à comunidade; mobilização para projetos sociais; participações em eventos, reuniões campais e vigílias [...] e a relação não acaba aqui. Se fossem colocados todos os itens e suas ramificações, sem querer exagerar levaríamos um bom tempo, dissertando a respeito das responsabilidades pastorais que recaem sobre nós, enquanto ministros do Senhor. 

 

É claro que além da preocupação com os assuntos ligados à igreja, temos outra faceta que às vezes acaba sendo esquecida por muitos: somos seres humanos!

 

E como tais, lidamos com nossos dramas pessoais, com os desafios da vida familiar, com as preocupações do contexto social, econômico e político em que estamos inseridos. 

 

A soma destes elementos pessoais e ministeriais aqui mencionados é suficiente para a entender a origem do esgotamento que muitos pastores têm experienciado em decorrência do seu ativismo religioso.

 

É por este motivo que alguns estão sendo consumidos pelo serviço eclesiástico, quando na verdade, deveriam estar ardendo para o Senhor, sem serem consumidos, a exemplo da sarça que serviu de símbolo para mostrar para Moisés que quando alguém é incendiado por Deus e pelo seu fogo, este alguém ilumina, inspira e acima de tudo atrai, da mesma forma que atraiu Moisés. 

 

É claro que isso não se aplica, apenas a pastores, mas também a todos aqueles que de alguma forma exercem algum tipo de atividade ou até mesmo cuidam de pessoas como profissionais das mais diferentes áreas. 

 

Na igreja é preciso dizer que nenhuma atividade é mais importante que a devoção. Aliás, a tragédia da vida cristã tem seu início quando a pessoa é especialista na liturgia e analfabeta na devoção.  Sabe tudo o que deve fazer sem ser para Deus aquilo que foi chamada para ser! 

 

Médico, cura-te a ti mesmo! (Lc 4. 23)

 

“Onde você está escolhendo ser você sem ser sabotado?”

 

É por isso que existem momentos que você precisa ser só seu e demais ninguém.  Até porque ninguém se doa com qualidade se não se guardar para Deus e para si mesmo.

 

É óbvio que se guardar para Deus e para si mesmo, não significa, isolar-se do mundo, e sim, resguardar-se dEle, entendendo às suas própria limitações e deficiências.

 

Já foi dito que ninguém pode entregar, aquilo que não tem! E o esgotamento quando falamos em Burnout, decorre exatamente dessa falta de si e excesso de outro(s).

 

O pioneiro neste estudo foi Herbert Freudenberger que ao lidar com a recuperação de toxicodependentes, começou a notar que com o tempo, os voluntários que trabalhavam com ele em favor dos dependentes químicos, começarem a demonstrar sinais de apatia, estafa e até depressão, apresentando uma condição tão carente de atenção psicológica quanto dos próprios pacientes pelos quais trabalhavam. Foi a partir daí, que Freudenberger deu início a pesquisas referentes à síndrome que, geralmente, atinge pessoas que se dedicam com extremo excesso ao cuidado de outras pessoas, sem cuidarem de si mesmas. 

 

Hoje sabe-se que o Burnout é um transtorno psíquico de caráter depressivo, com sintomas parecidos com os do estresse, da ansiedade e da síndrome do pânico, cuja principal associação está vinculada à vida profissional da pessoa.

 

Para se ter uma ideia, a síndrome, foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, em uma lista que entrará em vigor em 2022, onde aponta que se não tratada, a síndrome pode evoluir para doenças físicas, como hipertensão, doença coronariana[1], problemas gastrointestinais, depressão profunda e até alcoolismo. 

 

A história já nos deu evidencias de sobra que mostram que um abismo, chama outro abismo. (Sl 42. 7)

 

No Japão na década de 60 em decorrência do excesso de ativismo e trabalho, constatou-se aquilo que convenciou-se a chamar de “Karoshi” que significa “morte por excesso de trabalho”. 

 

Isso se deu especialmente depois da recuperação da segunda guerra, onde os níveis de exigência por recuperação foram tão grandes que trabalhadores japoneses chegavam a trabalhar até 100 horas por semana. Sendo que no Brasil, por exemplo, a jornada de trabalho de um trabalhador em regime celetista deve ser de 8 horas diárias e 44 horas semanais, cfe. regra que aparece no artigo 58 da CLT[2]

 

Hoje sabemos que ninguém pode trabalhar mais de doze horas por dia, seis ou sete dias por semana, ano após ano, sem sofrer física e mentalmente. 

 

Mas independentemente de quem sofre com o esgotamento profissional, as empresas precisam estar atentas, precisam combater qualquer tipo de situação que possa levar os profissionais a problemas emocionais, devem preservar todos que fazem parte do quadro de funcionários, desde os estagiários à diretores, cuidando daqueles que ela possui de mais valioso na corporação que são os próprios colaboradores.

Em depoimento a gestora de benefícios, Patrícia Mota Mendes Luiz Santos, destacou que após se diagnosticada com a síndrome e ser tratada. Os sintomas, de acordo com ela começaram com dores de cabeça constantes até que um dia ela foi dormir e acordou com a dor. Ao chegar no trabalho, sentiu uma dor mais forte e avisou uma colega sobre não estar bem. O seu raciocínio começou a ficar lento, tudo no lugar começou a ficar estranho e de repente uma crise de choro e pânico, seguidas de desespero se apoderou dEla. Suas mãos adormeceram, e por um lado do corpo paralisou, foi quando ela pensou que estava enfartando. 

Foi levada ao pronto-socorro, e depois disso foi diagnosticada com Burnout".

SÃO DEZ OS ESTÁGIOS DE BURNOUT:

 

1-    DEDICAÇÃO HIPERINTENSIFICADA - com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho e a qualquer hora do dia (imediatismo);

 

2-    DESCASO COM AS NECESSIDADES PESSOAIS - comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;

 

3-    AVERSÃO A CONFLITOS - o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas; insônias, intestino presos, sintomas físicos 

 

4-    REINTERPRETAÇÃO DOS VALORES - isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é o trabalho;

 

5-    NEGAÇÃO DE PROBLEMAS - nessa fase os outros são completamente desvalorizados, tidos como incapazes ou com desempenho abaixo do seu. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;

 

6-    RECOLHIMENTO E AVERSÃO A REUNIÕES (recusa à socialização; evitar o diálogo e dar prioridade aos e-mails, mensagens, recados etc);

 

7-    DESPERSONALIZAÇÃO (momentos de confusão mental onde a pessoa não sente seu corpo como habitualmente. Pode se sentir flutuando ao ir ao trabalho, tem a percepção de que não controla o que diz ou que fala, não se reconhece).  Mudanças evidentes de comportamento (dificuldade de aceitar certas brincadeiras com bom senso e bom humor);

 

8-    TRISTEZA INTENSA - marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido. Vazio interior e sensação de que tudo é complicado, difícil e desgastante;

 

9-    COLAPSO FÍSICO E MENTAL. Anedonia - Incapacidade de sentir prazer em atividades normalmente agradáveis.

 

10- Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica se tornam uma urgência.

 

CONCLUSÃO: 

O antídoto contra o burnout está na busca intencional por uma vida equilibrada. Para isso, é necessário reconhecer que o equilíbrio da vida passa pelo domínio do tempo. Salomão afirmou: “para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” (Ec 3. 1). 

SE QUISERMOS FAZER TUDO EM TODO TEMPO, EM BREVE NÃO FAREMOS NADA EM TEMPO ALGUM! 

Por isso, reflita sobre estas perguntas: 

Quanto tempo você̂ dedica à sua vida espiritual (oração, estudo da Bíblia, reflexão)? Quanto tempo você̂ investe em seu relacionamento familiar? Quanto tempo você̂ destina ao desenvolvimento de amizades edificantes? Quanto tempo você̂ gasta no cuidado com a Saúde? Quanto tempo você̂ separa para momentos de lazer e descanso? Quanto tempo você̂ aplica em seu desenvolvimento intelectual? Quanto tempo você̂ dedica às atividades ministeriais?

Não tente ser tudo o tempo todo para todas as pessoas. Não se pode fazer isso e manter a saúde e o equilíbrio emocional.

By Prof. Paulo Mazarem

 

REFERÊNCIAS:

 

A Saúde Mental do Pastor e as provisões de Deus. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa ISSN 0104-8112. Disponível em: < http://periodicos.unifil.br/index.php/Revistateste/article/view/1179/1081 > Acesso em: 03 mar. 21

Quando o líder cristão chega ao limite. Disponível em: < http://centrowhite.org.br/files/revistas/revistaministerio/2017/3B2017.pdf  > Acesso em: > Acesso em: 06 fev.  21

Excesso de trabalho e pandemia podem desencadear síndrome de Burnout. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-01/excesso-de-trabalho-e-pandemia-podem-desencadear-sindrome-de-burnout > Acesso em: 03 mar. 21

Direção Espiritual - Síndrome de Burnout (29/05/19). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F_mzwRbuVGg > Acesso em: 03 mar. 21

 

Avaliação comparativa dos sintomas da síndrome de burnout em professores de escolas públicas e privadas. Disponível em:                                                                                 https://www.scielo.br/pdf/rbedu/v19n59/09.pdf > Acesso em: 03 mar. 21

 

Burnout: como evitar a síndrome na empresa? Disponível em: < https://www.ciadeestagios.com.br/como-evitar-burnout-na-empresa/ > Acesso em: 03 mar. 21

                                                                               

 



[1] A doença coronariana (DC) envolve o comprometimento do fluxo sanguíneo através das artérias coronárias, mais frequentemente por ateromas. As manifestações clínicas envolvem isquemia silenciosa, angina de peito, síndromes coronarianas agudas (angina instável e infarto do miocárdio) e morte cardíaca súbita.

[2] A CLT surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas, unificando toda legislação trabalhista existente no Brasil.

 

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